“Sinto-me tão poderoso”, disse Trump no primeiro comício na Florida

Campanha republicana tenta ganhar eleitores apresentando os democratas como uma escolha radical.

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Trump apresenta-se como "enérgico" num comício na Florida Reuters/JONATHAN ERNST

O Presidente Donald Trump voltou aos comícios na Florida, estado em que a sua campanha está a investir e que de momento está a pender, com uma diferença de 3,7 pontos percentuais, para a campanha do democrata Joe Biden, segundo uma média de sondagens do site Real Clear Politics. Em 2016, Trump ganhou o estado por pouco mais de um ponto percentual.

“Sinto-me tão poderoso, podia sair daqui e beijar toda a gente na audiência, os homens, as mulheres bonitas”, disse. Antes, ao falar da sua recuperação da covid-19, tinha voltado a prometer que ia “pegar no que me deram e fazer com que seja acessível a toda a gente”, o que é de momento impossível, nem que seja porque um dos medicamentos está ainda em fase de ensaio clínico, e Trump recebeu-o excepcionalmente.

“Oh, o que eu gosto da Florida”, disse. “Estamos a ganhar por muito, e vêm as notícias falsas dizer que estamos a perder, como disseram há quatro anos e ganhámos, e agora vamos ganhar mais. Vamos ganhar este estado e vai ser melhor do que alguma vez foi”, disse Trump, começando com a voz rouca.

Fez depois uma série de acusações aos democratas, que tenta colar a uma imagem de, primeiro, ligados a interesses económicos e, depois, de esquerda radical, como a “Cuba comunista e Venezuela socialista”, numa tentativa de agradar aos eleitorado hispânico.

“Espero que não ganhem porque se ganharem, deus nos ajude, vão-nos levar por um caminho de onde não há retorno”, declarou. “Vamos erradicar o vírus e salvar o país da esquerda radical”, que são “más pessoas”, disse ainda.

“O próximo ano vai ser o melhor que tivemos economicamente”, prometeu ainda, saltando de assunto. “Recuperámos tão bem, nenhum país recuperou como nós, nem um”, disse, para entusiasmo da multidão.

Entre exageros e afirmações falsas, os verificadores de factos tiveram algum trabalho a desmontar parte do discurso de Trump. “Não sou um político”, disse o Presidente. “Não jogo com as regras de Washington.”

Parte do objectivo de Trump era mostrar-se recuperado e, como disse, “enérgico”, aproveitando o seu caso para criticar os confinamentos e elogiar o estado por se manter aberto — embora contrapusesse: “se acham que têm risco e não se sentem à vontade relaxem, fiquem em casa, não tem mal”. Não é, no entanto, alegou, o seu caso: “Eu sou jovem e estou em boa forma”, repetiu o Presidente, que chegou a estar internado com covid-19 mas rapidamente regressou à Casa Branca.

O seu médico disse entretanto que Trump já teve resultados negativos a testes em dias seguidos, mas não disse em que datas.

A Florida foi duramente afectada pelo coronavírus, com mais de 15 mil mortes, e Joe Biden vai tentar focar a sua campanha no estado nos falhanços da Administração Trump a lidar com a pandemia.

Joe Biden tem levado a cabo eventos de campanha com menos pessoas, sentadas, com distância física (e cadeiras vazias entre elas), como fez em Cincinatti, no Ohio, outro dos grandes estados em disputa, essencial para obter uma maioria no colégio eleitoral que ditará o vencedor. “Quantas mais cadeiras vazias há à volta da mesa por causa da sua negligência?” perguntou.

Enquanto isso, os media americanos estão a enfrentar o desafio de cobrir a campanha com um Presidente que não cumpre regras de prevenção da transmissão do coronavírus, mesmo depois de ter organizado um evento que deu origem a várias infecções entre pessoas que trabalham na Casa Branca ou próximas - três jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca foram também infectados. 

Vários meios de comunicação, entre eles o New York Times, Washington Post e o Wall Street Journal, decidiram que não iriam pôr os seus jornalistas em perigo e não iriam acompanhar a campanha presencialmente. 

Em relação ao comício da Florida, o especialista Anthony Fauci disse que ter grandes comícios é potencialmente problemático, porque ainda que seja ao ar livre, onde as hipóteses de transmissão são menores, a falta de distância física é problemática (assim como a não utilização de máscaras neste caso): “Temos visto que quando há uma situação com muitas pessoas sem máscara, os dados falam por si”, disse Fauci. “Acontece. E agora é ainda pior porque quando se vê a situação nos EUA, é mesmo muito problemática”.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos de covid-19 e também com mais casos de infecção confirmados do mundo: mais de sete milhões e meio de casos, e mais de 200 mil mortos.

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