“O confinamento é tudo aquilo que não queremos”, diz Governo
O secretário de Estado afirmou que se está “a trabalhar para afastar a ideia de confinamento” e que “isso, garantidamente, não deverá acontecer”.
O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, afirmou nesta segunda-feira que “todo o esforço” que está a ser feito pretende “afastar qualquer novo confinamento”. “O confinamento é tudo aquilo que não queremos”, afirmou na conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia provocada pela covid-19, em Portugal.
Questionado sobre uma notícia do PÚBLICO desta segunda-feira, que dá conta de um alerta dos médicos de saúde pública, segundo o qual, sem um reforço de meios para combater a pandemia, um novo confinamento poderá ser inevitável, Lacerda Sales afirmou: “Todo o esforço que estamos a tentar fazer é para afastar qualquer novo confinamento, como as autoridades de saúde internacionais, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vieram dizer ainda na semana que passou.”
E acrescentou: “O confinamento é tudo aquilo que não queremos. Trabalhámos para aliviar a pressão ao nível dos serviços de saúde e ao nível da interrupção das cadeiras de transmissão. Estamos a trabalhar para afastar a ideia de confinamento e isso, garantidamente, não deverá acontecer”, avançou o secretário de Estado.
O representante da OMS na gestão da pandemia na Europa, David Nabarro, já tinha defendido também, numa entrevista ao The Spectator, que os governos europeus não devem regressar às medidas de confinamento como forma principal de conter o vírus. “Os encerramentos só têm uma consequência, que não é de desprezar, que é de deixar as pessoas pobres ainda mais pobres”, disse. “Nós, na OMS, não advogamos a favor dos encerramentos como principal meio de controlo do vírus.”
David Nabarro notou ainda que se devem ver os confinamentos como “uma forma de conseguir algum tempo para reorganizar”, reavaliar e “proteger os trabalhadores dos serviços de saúde, que estão exaustos”. Para conter os surtos de forma rápida é necessário “serviços locais muitos organizados de controlo de infecção”, como serviços de testagem e contact tracing, e “envolver os actores locais o mais possível” – porque qualquer medida de controlo tem mais efeito se for feita ao nível local, defendeu. E, por último, acrescentou, perceber que só trabalhando em conjunto se pode conter o vírus, com medidas como distanciamento físico, protecção facial e higiene.
A mudança de posição surge depois de ter sido conhecido um documento, assinado por vários especialistas de todo o mundo, conhecido como a Grande Declaração de Barrington, na qual se pedia que se acabassem com os confinamentos pelo “dano irreparável” que estavam a fazer.
O alerta para um eventual novo confinamento foi dado pelo presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, numa altura em que o país enfrenta um aumento de casos. “Não podemos não fazer nada e esperar que não seja esse o desfecho”, declarou ao PÚBLICO, lembrando que os meios, não só nos hospitais mas das equipas de saúde pública, não são reforçados desde Março. “Se não alocarmos mais profissionais e mais meios materiais para fazer o controlo da situação e interromper as cadeias de transmissão, os casos vão continuar a avolumar-se e a capacidade do SNS não é inesgotável”, declarou.
Também na conferência desta segunda-feira, e quando questionado sobre a eventual falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que as infecções estão a aumentar, Lacerda Sales afirmou que foram contratados, no âmbito da pandemia, 5076 profissionais. Referindo-se a grupos profissionais específicos, avançou com o seguinte balanço: 180 médicos, 1685 enfermeiros, 548 assistentes técnicos, 2046 assistentes operacionais e 129 técnicos superiores. “Este tipo de contratações continua aberto. As administrações hospitalares sabem que podem contratar profissionais dos diferentes segmentos”, disse ainda.