Entre novos e velhos, o Curtas premeia Noite Turva e The Unseen River
Prémios máximos de um festival diferente para jovens realizadores, num palmarés que também contemplou Jafar Panahi, Denise Fernandes ou Sandro Aguilar.
A começar pelo “portal de desinfecção” instalado à entrada do Teatro Municipal para apaziguar os receios do Covid-19, e a terminar na disponibilização online das suas secções competitivas e no prolongamento do concurso nacional por Porto, Faro e Lisboa, o Curtas Vila do Conde 2020 foi um festival de experiências e de novidades.
Não surpreende por isso que o seu palmarés o reflicta: num ano em que as melhores curtas a concurso pertenciam a cineastas veteranos, foram os mais interessantes jovens realizadores que arrecadaram os prémios principais. Diogo Salgado venceu a Competição Nacional com o envolvente e atmosférico Noite Turva; Nha Mila, de Denise Fernandes, discreto retrato de reencontros familiares numa escala em Lisboa oriundo de Locarno 2020, foi a curta escolhida para representar o festival nos Prémios Europeus de Cinema; o vietnamita Pham Ngoc Lan arrecada o concurso internacional com a sua segunda curta, o elegante exercício de melancolia paisagista The Unseen River.
A escolha do júri formado pelas cineastas Elena Lopez Riera (cujo Los que Desean ganhou a Competição Internacional em 2019), Susana de Sousa Dias e João Paulo Miranda Maria optou por obras narrativamente mais ousadas, mas conseguiu, ainda assim, equilibrar com elegância vozes novas e nomes consagrados. Na competição nacional, o prémio de melhor realização coube a Sandro Aguilar por Armour, filme resultante de uma residência artística no Quebeque. Nos prémios transversais às competições, a melhor animação foi também portuguesa: Elo, um pequeno conto surreal e delicado de Alexandra Ramires (Água Mole), escrito a meios com Regina Guimarães.
O iraniano Jafar Panahi, ele de Táxi e Isto Não É um Filme, ganhou o prémio de melhor documentário com Hidden, mais um dos seus fascinantes devaneios automóveis entre ficção e realidade, numa curta encomendada pela Ópera de Paris que funciona quase como “adenda” a Três Rostos. E o galardão de melhor ficção coube à estreante francesa Naïla Guiguet, DJ e activista, com Dustin, que acompanha uma noite de um grupo de personagens LGBTQ. O público presente votou em Physique de la Tristesse, animação do canadiano Theodore Ushev, e O Nosso Reino, adaptação de Valter Hugo Mãe por Luís Costa.
Na secção de filmes de escola Take One!, julgada pelas realizadoras Ana Maria Gomes, Catarina Romano e David Pinheiro Vicente, premiaram-se dois documentários de tendência experimental – I Don’t Like 5PM de Francisco Dias (produção da Escola das Artes da Universidade Católica, melhor filme) e Cores de Outono de Lucas Tavares (Universidade da Beira Interior, melhor realizador), com uma menção especial para o já muito falado Corte, de Afonso e Bernardo Rapazote, escolhido para o programa Cinéfondation de Cannes.
Os filmes premiados estarão disponíveis – tal como o grosso da selecção competitiva do certame – na plataforma online do Curtas, https://online.curtas.pt, até ao próximo dia 25. Poderão ser ainda vistos em sala em Vila do Conde hoje (domingo 11) às 19h00, 19h45, 21h45 e 22h15.
Palmarés
Grande Prémio – The Unseen River de Pham Ngoc Lan (Vietname, Laos)
Melhor Animação – Elo de Alexandra Ramires (Portugal, França)
Melhor Documentário – Hidden de Jafar Panahi (França, Irão)
Melhor Ficção – Dustin de Naïla Guiguet (França)
Prémio do Público – Physique de la tristesse de Theodore Ushev (Canadá)
Competição Nacional
Melhor Filme – Noite Turva de Diogo Salgado
Melhor Realizador – Sandro Aguilar por Armour
Prémio do Público – O Nosso Reino de Luís Costa
Nomeação Curtas aos Prémios Europeus de Cinema
Nha Mila de Denise Fernandes
Competição Take One!
Melhor Filme – I Don’t Like 5PM de Francisco Dias
Melhor Realizador – Lucas Tavares por Cores de Outono
Competição My Generation
I, Julia de Arvin Kananian (Suécia)
Competição Experimental
South de Morgan Quaintance (Reino Unido)
Competição de Vídeos Musicais
Batida, Ikoqwe-Vaivai, real. Pedro Coquenão e Manuel Lino
Prémio Curtinhas
To Gerard de Taylor Meacham (EUA)