“Mobiliza-te contra o sexismo”, apela uma nova campanha europeia

O sexismo já foi formalmente definido pelo Conselho da Europa. Agora, é preciso “reparar nele, falar dele e acabar com ele”, propõe uma nova campanha europeia, apresentada em Portugal pela Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres.

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O projecto europeu Mobiliza-te Contra o Sexismo! tem duas estratégias de actuação: por um lado, pretende trazer o sexismo para a discussão pública, por outro quer combatê-lo junto do Governo. No Dia Internacional da Rapariga, que se assinala este domingo, 11 de Outubro, instituído pelas Nações Unidas para promover a protecção dos direitos das meninas pelo mundo, é lançada, então, uma nova campanha de sensibilização: chama-se Sexismo: Repare nele. Fale dele. Acabe com ele!, e quer erradicar o sexismo em Portugal.

A ideia parte do Conselho da Europa e é promovida pelo Lobby Europeu das Mulheres. Em Portugal, é fruto de uma colaboração entre a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM) e a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Para trazer o sexismo para o debate público, a campanha decorre online. Trata-se de um site didáctico de combate à desinformação sobre o sexismo, que permite ainda determinar se uma pessoa é, ou não, sexista: basta responder a dez perguntas aqui. Em Portugal, a campanha inclui ainda webinars e mesas redondas virtuais.

Ana Sofia Fernandes, presidente da PpDM, conta ao P3 que o sexismo é transversal à “vida privada das pessoas” e à sociedade, e pode assumir várias formas —​ das pressões sociais ao everyday sexism. Não escolhe vítimas. “Ele afecta todas as pessoas”, explica, “as mulheres, os homens, as raparigas e os rapazes”, mas “está intimamente relacionado com a violência contra as mulheres”. Por sua vez, as consequências do sexismo “podem ir desde a humilhação até às situações mais limite, que são os femicídios”, alerta.

O principal objectivo da campanha, financiada pelo Conselho da Europa e a decorrer em nove países europeus, é o de divulgar a Recomendação do Conselho da Europa de 2019, “Prevenir e combater o sexismo", que estabeleceu a primeira definição jurídica internacional de sexismo: “qualquer atitude, gesto, representação (...), prática ou comportamento baseado no pressuposto de que uma pessoa ou grupo de pessoas é inferior em razão do sexo, que ocorra na esfera pública ou privada”.

“Pela primeira vez, os Estados consensualizaram uma definição, e isso é importante ao nível das políticas públicas que vão implementar para efectivar a Recomendação do Conselho da Europa”, explica Ana Sofia Fernandes. As áreas de intervenção passam pela “Educação, o Desporto, a Cultura, a Justiça, as questões da linguagem e da comunicação, a Internet e os meios de comunicação social, e também o local de trabalho”, enumera.

Ana Sofia destaca a questão do “afastamento”, causado pelo sexismo, que acontece particularmente na Educação em Portugal: “Em profissões do futuro, que são as ligadas ao digital, tem havido uma redução do número de raparigas a entrar nos cursos ligados às novas tecnologias”, sublinha. Não se trata de uma situação de discriminação de género, mas sim da influência psicológica e social do sexismo “a sociedade está a incutir aos rapazes e às raparigas diferentes papéis sociais que vão condicionar as escolhas profissionais, e de estudos, posteriormente”. Além disso, os “sectores bastantes masculinizados” acabam por exercer alguma “pressão social sobre as raparigas” através de “piadas no local de trabalho e ao não considerar de forma visível o contributo que elas estão a dar”, dificultando a progressão de carreira.

Face aos resultados de um estudo de 2018 da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que concluiu que só cerca de 15% das fontes usadas pelos media são mulheres, Ana Sofia alerta para a falta de representatividade feminina dos “problemas da sociedade”. “As mulheres estarem num espaço central de fala é importante para a sociedade perceber também quais os problemas que existem da sua perspectiva”, sublinha. Sobre o impacto da covid-19, que agravou a disparidade entre género, destaca o esquecimento “das profissões e actividades cuidadoras [das mulheres] que mantiveram a sociedade a funcionar quando tudo fechou” nos discursos públicos sobre este período. 

Texto editado por Amanda Ribeiro

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