João Tordo: “Se me dissessem que tinha de escrever os meus livros outra vez, ia serrar madeira”
Ser escritor é 15% talento e 85% “trabalho e fé”, diz João Tordo, que este mês publica Felicidade, o seu 16.º livro em 16 anos. No Manual sobre escrita, lançado na quarentena, faz recomendações sobre álcool, drogas e inveja. E deixa avisos: quer ser escritor e não tem tempo? Impossível. Quer ser escritor e não tem editora? Não pague para ser publicado. Nunca.
Na esplanada do Jardim da Estrela, no centro de Lisboa, é fácil passar pelo escritor João Tordo sem o reconhecer. Ao longe, tem as barbas, a mochila e o computador portátil iguais a tantos homens de 2020. Ao mesmo tempo, distingue-se dos que ali estão. Alto, magro, bicicleta ao lado e a trabalhar sozinho, parece um rapaz, mas já tem 45 anos. Nos últimos 16, desde que lançou o primeiro livro, publicou 13 romances e dois ensaios. Em 2009, ganhou o Prémio José Saramago e passou a ter “boas insónias”. Felicidade, o seu 16.º livro, sai a 20 de Outubro. Tordo não gosta de falar de números — é a Companhia das Letras, sua editora, que informa que o escritor vendeu mais de 150 mil exemplares. Tordo prefere falar sobre escrever, reescrever e a importância dos editores. Manual de sobrevivência de um escritor ou o pouco que sei sobre aquilo que faço, lançado no início da pandemia, é um livro sobre a escrita e os seus satélites. Faz um retrato do mercado editorial português e um auto-retrato franco do autor. Há quem diga que “é muito deprimente”. Tordo responde que é realista e que “nesta profissão é preciso ter realismo”. O sabor a desilusão é intencional. “Desilusão no bom sentido da palavra: perder as ilusões.” Se tivesse de fazer tudo outra vez, não seria escritor. “Ia serrar madeira já.”
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