Ser mulher e política atrai abusos online? Estudo mostra que sim

Estudo do Instituto de Diálogo Estratégico mostra que mulheres em política e minorias são alvo de mais abusos online. Políticos seguidos incluíram a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, a presidente democrata da Casa dos Representantes Nancy Pelosi e o líder do senado Mitch McConnell.

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Até 39% dos comentários direccionados a políticas no Twitter incluem linguagem abusiva Kim Kyung Hoon/Reuters

As mulheres que optam por carreiras na política são mais frequentemente alvo de abuso no Twitter e no Facebook do que os homens. A ideia surge reflectida nos resultados de um pequeno estudo publicado esta semana pelo Instituto de Diálogo Estratégico, um think tank em Londres que se dedica a investigar a proliferação de ideias extremistas.

“A capacidade de direccionar e amplificar o ódio e abuso face a determinados candidatos políticos é facilitado pelos modelos empresariais das redes sociais que promovem o ultraje e o sensacionalismo e são incapazes de lidar com as consequências”, alerta a equipa de investigadores na apresentação dos resultados. 

O objectivo do estudo — que monitoriza comentários feitos a uma mão cheia de políticos nos EUA —​ era medir o abuso direccionado a diferentes candidatos do Congresso norte-americano. A conclusão foi que determinados grupos, particularmente candidatas do sexo feminino, são alvo de mais ataques. 

“O nosso trabalho mostra que é mais provável que candidatos políticos que são mulheres ou fazem parte de minorias étnicas sejam alvo de abuso em redes sociais populares, resume a equipa nas conclusões do estudo “O abuso online representa um desafio para as nossas democracias e para o direito ao debate porque submete políticos e candidatos a uma linguagem agressiva e violenta sem parar”.

Para chegar à conclusão, a equipa de investigadores usou inteligência artificial para detectar publicações ofensivas contra contas de nove políticos norte-americanos (cinco mulheres, quatro homens) no Facebook e no Twitter entre Junho e Julho. Os políticos seguidos incluíam a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, a líder democrata da Casa dos Representantes Nancy Pelosi e o líder do senado Mitch McConnell.

No final, viu-se que as mulheres tinham 12% mais probabilidade de ser alvo de mensagens abusivas no Twitter e no Facebook. Enquanto no Twitter 5% a 10% das mensagens e respostas enviadas a políticos do sexo masculino eram abusivas, a percentagem variava entre 15% a 39% com as mulheres.

O tipo de abuso também variava. Enquanto políticos do género masculino eram atacados pelas suas ideias, as mulheres eram atacadas pela sua aparência. A presidente democrata da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, por exemplo, é frequentemente alvo de críticas sobre a sua idade, com a palavra “botox” a aparecer repetidamente.

Tanto mulheres como homens de minorias éticas são também frequentemente atacados com jargão e insultos raciais. Mensagens direccionadas a Ilhan Omar, uma congressista democrata de origem muçulmana, incluíam, frequentemente, pedidos de deportação. 

Para a equipa responsável pelo estudo, os resultados não são surpreendentes, mas mostram que apesar das redes sociais terem políticas para eliminar conteúdo abusivo, fazem pouco para diminuir o envio de mensagens ofensivas. “Apesar das promessas do Facebook e do Twitter para protegerem os seus utilizadores, o nosso trabalho mostra que o abuso direccionado a candidatos políticos norte-americanos continua a proliferar”, frisam os investigadores.

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