O jornalismo em crise mergulhado numa comédia ácida
De 8 de Outubro a 15 de Novembro, o palco do D. Maria II transforma-se na redacção do Última Hora, jornal com a corda ao pescoço imaginado por Rui Cardoso Martins e encenado por Gonçalo Amorim.
Última Hora começa com os primeiros raios de sol do dia para o qual foi convocado um plenário na redacção do jornal. O jornal chama-se Última Hora, tal como a peça, e é um título moribundo, asfixiado, como rapidamente se descobre. O plenário (mais um, imagina-se), foi convocado pelo novo administrador, Ramires Sá Saraiva (José Neves), cuja entrada triunfal na redacção vem acompanhada da energia habitual nos CEO disto e daquilo, borbulhantes de ideias para rentabilizar negócios de toda a espécie, com recurso a meia-dúzia de truques na manga, habitualmente explicados por um glossário de terminologia aprendida nas business schools e apresentada, precisamente, em itálico: há planos para um downsizing, para journalism vending e elogios para os melhores assets. Tudo mascarado com uma atitude de “gajo porreiro”, próximo das tropas, que só pensa no bem comum. Ou seja, o jornalismo, embora seja um terreno que o autor Rui Cardoso Martins conhece desde as entranhas, não é muito diferente do resto do mundo. E também aos olhos de Ramires Sá Saraiva: é um negócio e aborda-se como tal.
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