Jornalista diz ter sido censurado por abordar suspeitas de corrupção do chefe de gabinete de João Lourenço
Carlos Rosado de Carvalho deixou TV Zimbo, que está a ser alvo de uma intervenção com fundos públicos, porque lhe disseram que “não era oportuno” falar sobre Edeltrudes Costa.
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condenou que não tenha sido transmitida na TV Zimbo a rubrica Direto ao Ponto do jornalista e economista angolano, Carlos Rosado de Carvalho, classificando-o como um “acto de censura. A Comissão de Gestão travou a intervenção porque abordava as suspeitas de enriquecimento ilícito que recaem sobre o chefe de gabinete do Presidente da República de Angola, João Lourenço.
O SJA felicita Rosado de Carvalho “pela coragem em recusar e denunciar a censura” e insta os jornalistas da estação a denunciarem outros actos de interferência na gestão editorial”.
A TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País, todas do grupo Media Nova, foram entregues ao Estado angolano no final de Julho, no âmbito do processo de recuperação de activos criados com fundos públicos, segundo a Procuradoria-Geral da República. O Serviço Nacional de Recuperação de Activos entregou depois as empresas ao Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social que nomeou uma comissão de gestão para a TV Zimbo.
No sábado, o economista, que apresenta na TV Zimbo o programa Direto ao Ponto anunciou através do Twitter um “ponto final” na colaboração, porque resolveu abordar as suspeitas sobre o chefe de gabinete de João Lourenço. “O caso Edeltrudes Costa” era o tema do DIRETO AO PONTO deste sábado. Sexta-feira a TV Zimbo disse-me que o tema “não era oportuno”, pedindo para “agendar outro”. Obviamente não aceitei”, escreveu Carlos Rosado de Carvalho
Em declarações hoje à Lusa, o jornalista disse não ter dúvidas de que se tratou de um ato de censura. “Não me foi permitido passar o tema”, afirmou, explicando que pretendia “dissecar o caso Edeltrudes”.
Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente da República, João Lourenço, terá alegadamente beneficiado de contratos com o Estado que lhe renderam milhões de dólares, segundo uma investigação da TVI.
O chefe de gabinete está a ser acusado de desviar dinheiro de Angola para o exterior, que terá usado para comprar casas em Cascais, apartamentos e carros topo de gama. Isto quando o combate à corrupção foi a bandeira do mandato de João Lourenço.
“Não acredito que tenha sido uma ordem ao mais alto nível, será mais uma auto censura [dos meios] que se põem na pele do Presidente”, considerou Carlos Rosado de Carvalho, declarando-se “disponível para esquecer tudo”, se puder apresentar o caso no próximo sábado no Direto ao Ponto.
O SJA salienta no seu comunicado que as suspeitas que recaem sobre o chefe de gabinete do Presidente da República têm “interesse público” e considera “deplorável” o argumento usado pela Comissão de Gestão para impedir a abordagem da matéria.
Solicita ainda à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) que “desempenhe o seu papel”.
Para o SJA, o ato da Comissão de Gestão da TV Zimbo, “contraria manifestamente a promessa do ministro das Telecomunicações e Comunicação Social de manter inalterável a linha editorial da TV Zimbo e outros órgãos transferidos para a esfera do Estado”.
Instada pela Lusa a comentar as acusações de censura a comissão de gestão da TV Zimbo remeteu esclarecimentos para mais tarde.
Carlos Rosado de Carvalho é desde Setembro membro do Conselho Económico e Social, um órgão de aconselhamento do Presidente, criado recentemente por João Lourenço.