Cristina Branco: “A minha música e a minha vida são uma e a mesma coisa”

Lançado em Março, o disco Eva começa finalmente a rodar pelos palcos. Começa em Loulé, esta segunda-feira, e percorrerá vários palcos europeus até meados de 2021.

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Cristina Branco fotografada para a capa do disco Eva (2020) JOANA LINDA

Devia ter começado em Junho, três meses depois de Cristina Branco ter lançado o seu novo disco, Eva. Mas a digressão foi adiada devido à pandemia, e o concerto de Loulé passou de Junho para 5 de Outubro, mantendo-se o de Lisboa, já marcado para 8 de Outubro (no Capitólio) e realinhando-se as outras datas: dia 10 em Aveiro (Teatro Aveirense), dia 17 em Famalicão (Casa das Artes), dia 24 em Vila Real de Trás-os-Montes (no Teatro de Vila Real). Dia 7 de Dezembro estará em Budapeste (Hungria) e a partir de Março de 2021 actuará na Alemanha, Liechtenstein, Suíça e Holanda.

Como muitos outros artistas arredados do palco por imperativos da covid-19, Cristina Branco teve uma paragem de quase seis meses. Até que, a convite de Jorge Palma, participou no seu concerto 70 Voltas ao Sol, em Setembro. Agora, volta aos palcos em nome próprio, ainda condicionada pela pandemia: “Foi muito complicado e continua a ser”, diz a cantora ao PÚBLICO. “Porque ninguém esperava e isto abateu-se sobre a vida de toda a gente de uma forma avassaladora. Demora tempo a digerir e acho que nenhum de nós se vai habituar a esta nova realidade, a viver com esta incerteza.”

Eva, que completa uma trilogia com os anteriores Menina (2016) e Branco (2018), é fruto de duas residências artísticas: “Fizemos uma em Loulé [onde inicia a digressão] e outra na Dinamarca, onde nasceu a Eva [Haussman, alter-ego literário criado pela cantora]. Todos os vídeos que fizemos a partir de temas deste disco [Delicadeza, Prova de esforço, Mau feitio e, o mais recente, Quando eu quiser] passaram por Loulé, foram aí filmados, sendo que um deles, Prova de esforço, passou também pela Dinamarca.”

As residências artísticas tiveram forte influência no resultado. “A vontade de trabalhar em residência acentuou-se com o passar dos anos, e finalmente consegui concretizá-la. Porque acho importante que quando estamos a trabalhar num disco, nos concentremos e deixarmos de pensar em muitas outras coisas. No fundo, é como abandonarmos a nossa vida normal para nos focarmos apenas num objecto. Porque todos nós, falo de mim e dos músicos, temos vidas muito agitadas (filhos, colégios) e ensaiar e trabalhar em Lisboa é sempre muito complicado, há milhares de coisas a acontecer à nossa volta.”

“Uma grande parte de mim”

Com o disco anterior tinham ensaiado uma tentativa de residência na Madeira, na Ponta do Sol. Agora, Cristina e os músicos, Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e Bernardo Moreira (contrabaixo), com quem já tocava, e Luís Figueiredo (piano), seguiram novo plano: “Eram 23 canções. Seleccionei 14 e começámos a trabalhar nelas em Agosto, nos primeiros ensaios em Lisboa. Em Outubro, levámos apenas 12 para Loulé, onde estivemos dez dias e preparámos os temas que eram importantes para contar a história da Eva. Isto também com a Joana Linda, fotógrafa e realizadora dos vídeos, para ir percebendo a energia das coisas. Daí, depois de alguns concertos, seguimos para Louisiana, na Dinamarca, onde ficámos sete dias. A 1 de Dezembro chegámos a Lisboa e no dia 2 entrámos em estúdio.” Das 23 canções iniciais, o disco ficou com 10.

Menina, Branco e Eva formam uma identidade: “Acho que eles são uma grande parte de mim. Vivi esses discos à procura de um bocadinho de mim e as canções que neles foram feitas são uma tentativa de contar a minha história. É um pouco como na literatura, não se inventam histórias, elas têm de acontecer a quem está a escrever, neste caso a compor e a cantar, para que se concretizem. Eu estou sempre à procura da próxima música e do próximo passo, porque na verdade se entrelaçam. A minha música e a minha vida são uma e a mesma coisa. Este tríptico é definitivamente o mais biográfico, mas todos eles contam de alguma forma, ainda que mais velada, essa mesma história, noutros momentos da minha vida.” Uma vida onde o fado continuará a ter lugar, diz Cristina. “Nos concertos, ele continua e continuará. Não me imagino a cantar sem passar pelo fado, por esse tipo de energia. Porque preciso dela. Tem tudo a ver com o sítio de onde eu venho e com o que me moveu desde o primeiro momento: o fado.”

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