Grupo Solvay vende complexo químico da Póvoa a empresa portuguesa
Complexo industrial pioneiro em Portugal muda de mãos ao fim de 86 anos. É prometida a manutenção do emprego e a criação de novos postos de trabalho.
A multinacional de origem belga Solvay vai vender grande parte do seu complexo industrial e empresarial da Póvoa de Santa Iria à Algora, SGPS. O negócio, que deverá ficar concluído até final do ano, contempla a fábrica de Clorato de Sódio da Póvoa, as instalações industriais envolventes, o parque de negócios criado nos últimos anos em terrenos libertos pela desactivação de outras fábricas e as minas de salgema de Matacães (Torres Vedras).
De fora do acordo fica, apenas, a Fábrica de Peróxido de Hidrogénio (água-oxigenada) que o grupo Solvay vai continuar a gerir na Póvoa. O centro de serviços partilhados que o grupo Solvay instalou há mais de uma década em Carnaxide (com mais de 300 funcionários) também continuará sob a alçada da multinacional belga.
Fonte da Solvay Portugal explicou, ao PÚBLICO que foi celebrado um “acordo vinculativo” de venda da Solvay Portugal-Produtos Químicos, SA à Algora-Sustainable Investments, SGPS, uma empresa constituída em joint venture entre a A4F e a Green Aqua, firmas de origem portuguesa que já exploram uma unidade de produção de algas com cerca de 10 hectares instalada em espaços de antigas salinas situadas em terrenos da Solvay, na Póvoa de Santa Iria.
“A inovação está no cerne da estratégia da Algora. Acreditamos convictamente que vamos melhorar as condições do Parque Industrial da Póvoa, tornando-o mais eficiente e mais sustentável, permitindo à Algora e à Solvay produzir melhor, de forma mais rentável e próxima dos clientes”, sustenta Nuno Coelho, presidente do conselho de administração da Algora, frisando que “os accionistas da Algora têm uma longa tradição de parceria com grandes empresas industriais. As nossas actividades relacionadas com a produção de microalgas são CO2 negativas e isso posiciona-nos como parceiros estratégicos na transição da indústria para uma maior sustentabilidade”, acrescenta.
Já Marco Gianuzzi, director-geral da Solvay Peróxidos, afirma que “a Solvay está totalmente comprometida em continuar a dar aos seus clientes a total garantia de fornecimento de Peróxido de Hidrogénio (matéria muito utilizada na indústria de pasta e de papel) e que “este acordo estratégico permitirá à Solvay concentrar-se na sua actividade principal, no sentido de continuar a ser um parceiro de confiança e de longo prazo para os seus clientes ibéricos”.
Na prática o grupo Solvay vende a Solvay Portugal-Produtos Químicos à Algora, com excepção da Fábrica de Peróxido de Hidrogénio (cerca de 20 funcionários), que passará a funcionar de forma autónoma dentro do extenso complexo industrial e empresarial da Póvoa de Santa Iria detido pela Algora. A Solvay Portugal-Produtos Químicos emprega, actualmente, cerca de 60 funcionários e, segundo a mesma fonte oficial, “é ainda prematuro” revelar quantos transitam para a futura empresa detida pela Algora e quantos ficarão ligados ao grupo Solvay. O acordo prevê que a Solvay Portugal – Produtos Químicos venha a adoptar uma nova designação, a definir pela Algora, e que o grupo Solvay determine também uma nova denominação social para a actividade que vai manter em Portugal.
“A mudança de accionista está prevista para o final do ano de 2020, altura em que ambas as empresas começarão a desenvolver as suas actividades em parceria. Esta transacção terá um impacto positivo no emprego local, porquanto prevê a manutenção dos actuais postos de trabalho e ainda a geração de novos empregos”, garante a Solvay Portugal, afirmando que “esta transacção foi desenhada para possibilitar melhores condições de operação da unidade de Clorato de Sódio”, sector para o qual o grupo Solvay, actualmente, já não se sente vocacionado.
A ligação do grupo Solvay Portugal à Póvoa de Santa Iria remonta já a 1934, ano em que a multinacional belga começou a instalar um extenso complexo de indústria química a sul desta localidade do concelho de Vila Franca de Xira. A então chamada “Soda Póvoa” chegou a empregar cerca de 1200 funcionários, produzindo várias matérias-primas, incluindo carbonato e clorato de sódio. A empresa possuía também uma extensa pedreira nas proximidades de Vialonga (vendida na década passada à Bucelbritas) onde extraía matéria-prima e uma mina de sal-gema no concelho de Torres Vedras, que alimentava o complexo químico da Póvoa através de uma conduta subterrânea com mais de 20 quilómetros. No início do século, a Solvay Portugal ainda empregava mais de 400 funcionários, mas a sua actividade foi progressivamente reduzida e, já em 2013, a Solvay decidiu fechar mais algumas fábricas e criar um parque de negócios nos terrenos libertos, onde já estão instaladas cerca de 10 firmas industriais e de logística.