Detectadas seis galáxias presas na “teia” cósmica de um buraco negro gigante
Equipa de cientistas detectou, com a ajuda do telescópio VLT, seis galáxias perto de um buraco negro supermaciço, quando o Universo tinha menos de mil milhões de anos.
Uma das características especiais da descoberta anunciada esta quinta-feira pelos astrónomos do Observatório Europeu do Sul (ESO) está relacionada com o momento do evento. É a primeira vez que tão cedo depois do Big Bang os cientistas observam um grupo de galáxias perto de um buraco negro supermaciço. Por outro lado, os cientistas conseguiram olhar para algumas das mais ténues galáxias alguma vez observadas. O trabalho, refere um comunicado de imprensa sobre a descoberta feita com a ajuda do telescópio VLT (Very Large Telescope), dá novas pistas sobre estes incríveis objectos e reforça “a teoria de que os buracos negros podem crescer rapidamente no seio de enormes estruturas em forma de teias, alimentando-se das enormes quantidades de gás aí existentes”.
“Realizámos este trabalho com o objectivo de compreendermos melhor uns dos objectos astronómicos mais desafiantes: os buracos negros supermaciços do Universo primordial. Estes buracos negros são sistemas bastante extremos e até à data não dispomos de nenhuma explicação convincente para a sua existência,” refere Marco Mignoli, astrónomo no Instituto Nacional de Astrofísica (INAF) italiano em Bolonha, Itália, e autor principal de um artigo publicado esta quinta-feira na revista Astronomy & Astrophysics Letters, citado num comunicado do ESO.
Os buracos negros são entidades extraordinariamente densas e muitos deles são formados quando as estrelas (maiores do que o nosso Sol) entram em colapso no final do seu ciclo de vida. Buracos negros supermaciços (como o que existe no centro da nossa Via Láctea) são os maiores que existem, devorando matéria e radiação e que se pensa que resultam da fusão com outros buracos negros.
Os cientistas anunciam agora que as observações com o VLT “revelaram várias galáxias em torno de um buraco negro supermaciço, todas elas situadas na ‘teia de aranha’ cósmica de gás que se estende no espaço ao longo de uma dimensão de cerca de 300 vezes o tamanho da Via Láctea”. “Os filamentos da teia cósmica são como os fios de uma teia de aranha. As galáxias permanecem e crescem nos sítios onde os filamentos se cruzam e correntes de gás — disponíveis para alimentar tanto as galáxias como o buraco negro central supermaciço — correm ao longo dos filamentos”, explica Marco Mignoli o comunicado.
A radiação emitida pela imensa teia captada agora viajou até nós desde a altura em que o Universo tinha apenas 0,9 mil milhões de anos. “O nosso trabalho colocou uma peça importante no puzzle ainda muito incompleto que é a formação e o crescimento destes objectos [buracos negros supermaciços], tão extremos mas relativamente abundantes, tão rapidamente depois do Big Bang,” destaca o co-autor do trabalho Roberto Gilli, também astrónomo no INAF em Bolonha, no mesmo comunicado.
Os astrónomos acreditam que a enorme teia cósmica de gás e as galáxias em redor guardam energia suficiente para “alimentar” um buraco negro e permitir que se torne um gigante supermaciço em pouco tempo. Porém, indo um pouco mais atrás, como é que estas teias nascem? “Os astrónomos acreditam que os halos gigantes da misteriosa matéria escura sejam a chave. Pensa-se que estas enormes regiões de matéria invisível atraiam enormes quantidades de gás no Universo primitivo; juntos, o gás e a matéria escura invisível, formam estas estruturas do tipo de teias, onde galáxias e buracos negros se podem desenvolver”, responde o documento do ESO.
Os potentes instrumentos de observação actualmente disponíveis permitiram chegar mais longe e de forma mais nítida detectar as estruturas que até agora se escondiam dos astrónomos. As galáxias captadas são das mais ténues alguma vez observadas. E foram detectadas seis, no total, tendo a equipa confirmado a ligação entre quatro e o buraco negro. “Acreditamos ter visto apenas a ponta do icebergue e pensamos que as poucas galáxias que descobrimos até agora em torno deste buraco negro supermaciço sejam apenas as mais brilhantes,” comentou a co-autora Barbara Balmaverde, astrónoma do INAF em Turim, Itália.