PSD recupera ideia do Bloco e pede apoio da AR para auditoria pelo Tribunal de Contas ao Novo Banco
Apenas os bloquistas responderam a Duarte Pacheco afirmativamente de forma directa; CDS e PCP dizem que não se opõem a iniciativas para apurar a verdade sobre a gestão do banco
Lisboa, 30 set 20202 (Lusa) - O PSD pediu hoje ao parlamento um sinal de apoio para uma nova auditoria ao Novo Banco por uma entidade pública como o Tribunal de Contas, mas apenas o BE, primeiro partido a sugerir esta hipótese, expressou clara concordância.
Da parte das bancadas do CDS-PP e do PCP vieram declarações de que não se oporiam a qualquer iniciativa para apurar toda a verdade sobre esta instituição bancária, com os restantes partidos a optarem por críticas sobre o processo ao longo dos anos.
Numa declaração política, o deputado do PSD Duarte Pacheco retomou no plenário uma sugestão já deixada pelo presidente do partido, Rui Rio, numa recente entrevista.
“Desejamos que se juntem a nós nesta acção de assegurar que uma entidade pública, por exemplo o Tribunal de Contas (TdC), possa fazer aquilo que todos os portugueses esperam dele”, afirmou Duarte Pacheco, defendendo que “o que os portugueses exigem é que não se transfira nem mais um cêntimo se isso não for devido”. Pelo contrário, acrescentou, “se todo o valor for realmente devido” o Estado deve cumprir o contrato e pagar, via Fundo de Resolução, a última tranche ao Novo Banco.
O deputado do PSD admitiu que o parlamento poderia esperar por Janeiro, mas defendeu que se existir um “entendimento alargado” no parlamento, a auditoria poderia avançar já para que as conclusões sejam conhecidas “em tempo útil, antes do Estado passar o próximo cheque”.
Na resposta, a deputada do BE Mariana Mortágua lembrou que foi o Bloco o primeiro partido a sugerir uma auditoria realizada por entidades públicas como o Banco de Portugal, a Inspecção-Geral das Finanças e o Tribunal de Contas. “Se o Tribunal de Contas precisa de sinais da Assembleia da República para começar imediatamente uma auditoria que proteja o interesse público contra os abusos da Lone Star, então pode contar com todo o apoio do BE”, afirmou.
Pelo PS, o deputado Miguel Costa Matos não se referiu à sugestão de uma nova auditoria feita pelo Tribunal de Contas, preferindo questionar o PSD sobre a razão que o levou a votar contra a proposta de inquérito parlamentar dos socialistas por recuar até à resolução feita pelo Governo PSD/CDS-PP, em 2014. “O PSD não quer revisitar a resolução? Porque querem ignorar que venderam gato por lebre?”, questionou.
A deputada do CDS-PP Cecília Meireles lamentou que a recente auditoria sobre o Novo Banco realizada pela consultora Deloitte não tenha respondido à questão que considera fundamental: “Os activos ou estão a ser vendidos ao desbarato pelo Novo Banco e isso tem de se parar, ou estão a ser bem vendidos e estavam mal contabilizados”. “Tudo o que seja para chegar a uma conclusão sobre este assunto o CDS será favorável”, afirmou.
O deputado do PCP Duarte Alves, tal como tinha feito Mariana Mortágua, criticou a forma como Duarte Pacheco se referiu à resolução do Novo Banco em 2014, como uma operação “que não foi perfeita”. “É altura de o PSD perceber que foi uma resolução fraudulenta”, criticou.
Duarte Alves assegurou que a sua bancada não irá obstaculizar qualquer tentativa de apurar a verdade, mas defendeu que “não se pode iludir os portugueses com auditorias e comissões de inquérito que não vão à questão essencial”, a devolução do banco à esfera pública, no entender do PCP.
Pelo PAN, a líder parlamentar Inês Sousa Real defendeu que o mais importante é a “renegociação dos contratos de venda” do Novo Banco à Lone Star, considerando que sem ela não se poderá impedir a injecção prevista no contrato para o próximo ano. A deputada lamentou ainda que o PSD se tenha juntado, no passado, ao PS para rejeitar uma auditoria independente a esta instituição bancária.
Pelos Verdes, o deputado José Luís Ferreira considerou que os problemas relacionados com o Novo Banco “nasceram com o Governo PSD/CDS-PP” e recordou palavras da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, segundo a qual a opção do Governo “não ia trazer custos para os contribuintes”.
“Dizer que o problema do Novo Banco nasceu com o Governo PSD é o mesmo que dizer que o problema da pandemia de covid-19 nasceu no tempo do Governo do PS”, criticou Duarte Pacheco, lamentando que algumas bancadas se limitem a “atirar pedras uns aos outros, sem querer ir ao fundo das questões”.
Na sexta-feira, o parlamento aprovou por unanimidade a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Novo Banco proposta pelo BE, bem como outras iniciativas semelhantes de Iniciativa Liberal e PS, estas com o voto contra do PSD. Por consenso, os objectos das três comissões aprovadas vão agora ser vertidos para a formação de um único inquérito parlamentar, algo a apurar na próxima reunião da conferência de líderes do Parlamento, marcada para dia 14.