Mafalda continua a fazer-nos perguntas
Há vários anos que não desenhava e publicava, mas era como se o continuasse a fazer. Quino, o artista argentino que nos ofereceu a doçura filosófica de Mafalda, morreu. Dele, herdamos uma galeria de cartoons que comentavam com inteligência, humor e uma muito humana desfaçatez um mundo que ainda vai sendo o nosso.
Joaquín Salvador Lavada, argentino, conhecido mundialmente como Quino, nome maior da banda desenhada e do desenho político, morreu esta quarta-feira com 88 anos. A notícia soa irreal, pois Mafalda, a maior criação do artista, nunca desapareceu. E, sobretudo nos últimos dez anos, parece ter regressado com uma verve renovada. É como se este mundo, à beira de uma convulsão, tivesse afiado a filosófica doçura da menina do cabelo negro e espesso, e dos seus amigos Filipe, Susaninha, Guilherme, Manelinho, Miguelinho. Afinal, continuam a falar-nos de uma sociedade que, para o bem e para o mal, ainda vai sendo a nossa. Um mero folhear e lá estão aquelas tiras, breve e lentas, apontadas, sem maldade, à educação, ao trabalho, ao capitalismo. Mas, também, ao tempo, ao espaço ou à arte. A política e metafísica, sem vagar para a melancolia de um Charlie Brown, bailam juntos nos desenhos e nas perguntas que o artista nos deixou. Continuam a ser-nos endereçadas.
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