O ruído crescente e a revisão das imagens
A segunda jornada da Liga já nos trouxe um pouco mais de ruído, em termos de contestação às decisões das equipas de arbitragem, e isso reflectiu-se quer em alguns cartões mostrados a elementos técnicos nos bancos dos suplentes, quer nas declarações em algumas conferências de imprensa. O eco só não é maior, porque as equipas denominadas de “grandes” têm vencido os seus jogos.
Dos diversos lances que trago aqui para análise, destaque para a questão eterna da “bola na mão vs mão na bola”, que, por muitas atenuantes e agravantes que a lei comporte, continua a trazer dificuldades acrescidas aos árbitros e videoárbitros (VAR) nas análises e decisões. O protocolo do VAR tentou, para esta época, dar uma ajuda no sentido de, em lances cujas decisões sejam subjectivas (intensidade de uma infracção, casos de fora-de-jogo por interferência, em que o jogador não toca a bola, mãos na bola), aconselhar o árbitro a uma OFR (on-field review). Ora, em dois jogos e em dois laces capitais, tal não aconteceu, o que significa que o VAR e os árbitros não estão a dar cumprimento ao que está escrito na página 146 das leis de jogo.
Foi assim no golo anulado ao jogador do Sp. Braga por suposto fora-de-jogo, foi assim no penálti assinalado a favor do Sporting em Paços de Ferreira. E começo a minha análise aos casos de jogo exactamente por este lance que aconteceu na Capital do Móvel. Ao minuto 20, a bola é rematada por Tiago Tomás e, na sua trajectória, toca em Eustáquio, indo, acto contínuo, à coxa esquerda do seu colega, Douglas Tanque, e acabando por, de forma inesperada, ressaltar e tocar casualmente no braço esquerdo do mesmo jogador.
Um penálti incorrectamente assinalado, e facilmente justificado pela página 106, da lei 12 (Faltas e Incorrecções), que ressalva: “Normalmente não se considera infracção quando a bola vem directamente da cabeça ou corpo do próprio jogador, incluindo os pés”. Para além disso, o braço esquerdo de Tanque estava em posição natural e normal, sem ganho de volumetria, não havendo qualquer gesto ou movimento deliberado.
Ao minuto 37, também não houve motivo para penálti, neste caso contra o Sporting. Tiago Tomás não agarra, empurra ou carrega Hélder Ferreira, no interior da área leonina, e também aqui o toque da bola no cotovelo do jogador do Sporting resultou de um ressalto da bola no solo, não havendo qualquer acto deliberado e intencional no contacto do esférico com o braço.
No jogo Boavista-FC Porto, ao minuto 6 reclamou-se penálti, por braço na bola de Pepe, mas não houve motivo para tal. O central portista, aquando da marcação de um livre directo a favor dos “axadrezados”, inserido na sua barreira e no interior da sua área, limitou-se a proteger-se do remate que foi contra ele, mantendo sempre o braço em posição natural e normal e junto ao corpo, não ganhando volumetria, nem ocupando um espaço indevido.
Ao minuto 49, pediu-se de novo falta para penálti na área portista, mas, uma vez mais, não houve razão para tal. Sauer, depois de cruzar a bola, acabou por ser tocado por Marega: esse contacto legal resultou de um choque meramente casual e fruto do movimento de ambos os jogadores aquando da disputa da bola.
Ao minuto 67, Marega obtém um golo após uma recuperação de bola no meio-campo por parte de Manafá. A dúvida era se o jogador portista tinha cometido falta sobre Paulinho, o que faria, de acordo com o protocolo, com que se anulasse o golo e recomeçasse o jogo com livre directo, no local da infracção, a favor do Boavista. Mas as imagens foram esclarecedoras: a recuperação da bola foi correcta, apenas houve um contacto e choque natural entre ambos jogadores, sem qualquer tipo de infracção.
Do jogo Benfica-Moreirense, destaque para o minuto 31 e para o golo obtido por Rúben Dias. O central “encarnado”, na sua impulsão vertical, colocou a mão nas costas do seu adversário, mas não o empurrou ou carregou, apenas usou o braço de forma natural, para sua própria protecção aquando do salto. Tudo legal, tal como o golo que obteve.
Ao minuto 45+1, golo bem anulado ao Benfica, já que, no momento do passe de Pizzi, Darwin estava adiantado em relação ao penúltimo adversário. O árbitro assistente cumpriu com o que está estipulado, ao deixar ir até ao fim o lance e só depois levantar a bandeirola, pois, caso tivesse errado, seria possível sempre reverter a jogada.
Ao minuto 75, ficou um cartão amarelo por mostrar a Everton, uma vez que o jogador benfiquista foi negligente na forma como deixou o seu braço direito para trás e tocou no rosto de Mateus Silva.