Um ano especial “pediu” uma Volta a Portugal especial
Com menos etapas e sem dia de descanso, esta prova será corrida numa versão compacta e, sobretudo, muito densa: as subidas a Santa Luzia, à Senhora da Graça e à Torre serão feitas em três das quatro primeiras etapas.
Neste ano 2020, o desafio, um pouco por todo o globo, tem sido o de tentar que a pandemia de covid-19 influa o menos possível na vivência e na sobrevivência das pessoas. No ciclismo, também.
Um ano especial requer uma Volta a Portugal especial e a prova que vai para a estrada neste domingo – cuja edição 82 deveria ter sido corrida no início de Agosto – é uma tentativa de normalizar e reduzir a marca indelével da pandemia no desporto e no ciclismo.
Depois de a organizadora habitual da prova ter recusado ir avante com a competição em 2020 e de alguns distritos terem recusado receber o certame, a Federação Portuguesa de Ciclismo criou, ela própria, esta edição especial da Volta, com início em Fafe e final em Lisboa, numa prova que não contará para o palmarés oficial – a edição 82 da Volta será corrida em 2021.
Com menos etapas e sem dia de descanso, esta prova será corrida numa versão compacta e, sobretudo, muito densa: é que o “desenho” encontrado para a competição não pôde evitar uma concentração incomum das etapas de montanha no início da prova, com as subidas a Santa Luzia, à Senhora da Graça e à Torre a chegarem em três das quatro primeiras etapas.
Apesar de parecer um pormenor organizacional, este é um “pormaior” desportivo. Depois da paragem competitiva devido à covid-19, a concentração da principal dureza da Volta logo nos primeiros dias não permitirá aos ciclistas chegarem à melhor forma física com o decorrer das etapas.
O “choque” será repentino e o eventual vencedor, em caso de uma boa vantagem ganha nas montanhas, pode vir a ter a Volta “no bolso” ainda antes das etapas finais da competição cujo desfecho está marcado para um contra-relógio em Lisboa, no feriado de 5 de Outubro.
Tudo isto será feito com as estradas e as chegadas despidas de público, algo que é assumido por João Rodrigues, actual campeão da Volta, como um factor negativo.
“Acho que é o pior desta Volta. Está a ser já bastante estranha (…) e está a fugir um pouco do espectáculo, daquela volta a Portugal calorosa e com o público todo que costumamos ter. Vai ser estranho no início, mas é assim, é a nova realidade”, lamentou à Lusa.
Brandão contra a W52-FC Porto
Neste sentido, a W52-FC Porto terá, como habitualmente, um papel central. Sempre dominadora, a equipa do Norte do país– que vence a Volta desde 2013 – não quererá que a prova passe pelo Monte Farinha e pela Serra da Estrela sem que um dos seus ciclistas tenha a camisola amarela no corpo e o triunfo final, no mínimo, encaminhado.
E são muitos os candidatos, mesmo dentro da própria equipa. À cabeça, surge João Rodrigues, actual campeão. Em tese, será para ele que trabalhará a W52-FC Porto, mas a incógnita sobre o momento de forma dos ciclistas pode trazer surpresas e obrigar as formações a recorrerem às segundas linhas.
E ninguém pode fazê-lo tão bem como a equipa do Sobrado. Além de João Rodrigues, a equipa orientada por Nuno Ribeiro traz o ex-World Tour Amaro Antunes, e os já campeões da Volta Gustavo Veloso, Ricardo Mestre e Rui Vinhas.
A fazer frente a esta equipa estará, ainda e sempre, Joni Brandão. O “homem do quase”, que já ficou três vezes em segundo lugar, lidera uma Efapel também ela bem apetrechada com nomes como Tiago Machado, Luís Mendonça ou António Carvalho.
E, tendo força para tal, Joni Brandão será um dos animadores dos primeiros dias da corrida, já que as tradicionais dificuldades no contra-relógio (agendado para o último dia) obrigarão o ciclista a atacar as etapas mais duras.
O lote de favoritos inclui ainda os também habituais Vicente Garcia de Mateos ou mesmo os portugueses Frederico Figueiredo e João Benta.