Catarina Vasconcelos vence Prémio Zabaltegi no Festival de San Sebastián
O prémio, no valor de 20 mil euros, foi atribuído à primeira longa-metragem da realizadora.
Catarina Vasconcelos venceu, com A Metamorfose dos Pássaros, o Prémio de Melhor Filme Zabaltegi — Tabakalera, no Festival de Cinema de San Sebastián, um dos mais importantes festivais espanhóis, revelou este sábado em comunicado a Portugal Film, uma agência que promove o cinema português no estrangeiro.
Com um júri presidido pela realizadora Anna Sofie Hartmann, o prémio no valor de 20 mil euros inclui uma verba de seis mil euros para a realizadora e outros 14 mil euros que se destinam à distribuidora do filme em Espanha.
“Receber um prémio como este deixa-me muito feliz: é algo de que não estava de todo à espera num festival como San Sebastián. Tenho de agradecer a toda a equipa e família que fizeram com que este filme fosse possível porque fazer filmes em Portugal continua a ser uma enorme luta para todo um sector. Fico muito comovida com o facto desta Metamorfose dos Pássaros ter chegado assim a Espanha”, disse a realizadora citada pelo mesmo comunicado. Como escreveu o crítico de cinema Jorge Mourinha no PÚBLICO sobre a obra, a realizadora filma cuidadosamente o que resta da avó na casa de família a ser esvaziada, encenando uma fantasia onírica a partir de memórias familiares.
Na sinopse que acompanha o comunicado sobre o prémio, Catarina Vasconcelos, 34 anos, conta a história dessa avó que nunca conheceu, que é também a história da sua família: “Beatriz e Henrique casaram no dia em que ela fez 21 anos. Henrique, oficial de marinha, passava largas temporadas no mar. Em terra, Beatriz, que aprendeu tudo com a verticalidade das plantas, cuidou das raízes dos 6 filhos. O filho mais velho, Jacinto, é meu pai e sonhava poder um dia ser pássaro. Um dia, subitamente, Beatriz morre. A minha mãe não morreu subitamente, mas morreu quando eu tinha 17 anos. Nesse dia, eu e o meu pai encontramo-nos na perda da mãe e a nossa relação deixou de ser só a de pai e filha.” Na sua obra anterior, Metáfora ou a Tristeza Virada do Avesso, uma curta estreada em 2014 e resultado de um mestrado em Design de Comunicação no Royal College of Art, a realizadora reflectia sobre a morte da mãe.
O grande vencedor do 68.º Festival de Cinema de San Sebastián foi o filme georgiano Beginning, de Dea Kulumbegashvili: recebeu a Concha de Ouro para melhor filme, a Concha de Prata para melhor realizadora, enquanto Ia Sukhitashvili ganhou o prémio de melhor actriz. O filme foi ainda distinguido com o prémio para o melhor argumento.
O prémio Prémio de Melhor Filme Zabaltegi — Tabakalera é mais uma distinção para a primeira longa-metragem da realizadora portuguesa, depois de Catarina Vasconcelos já ter recebido o Prémio da Crítica Internacional — FIPRESCI, na competição da Berlinale, o festival de cinema de Berlim, onde teve a sua estreia mundial, e mais recentemente o Prémio de Melhor Realizadora e Prémio do Público no IndieLisboa.
O filme venceu também o Prémio de Melhor Filme no Festival de Vilnius na Lituânia, o Prémio Especial do Júri no Festival de Taipei, em Taiwan, e o Prémio de Melhor Filme no Festival Dokufest, no Kosovo.
A longa-metragem de Catarina Vasconcelos integrou a programação da secção Zabaltegi — Tabakalera, uma selecção de vinte obras em competição, onde também competiam os portugueses Marta Sousa Ribeiro, com a longa-metragem Simon Chama, e Pedro Peralta, com a curta Noite Perpétua. A secção, que pretende revelar novos olhares, incluiu também os mais recentes filmes de Philippe Garrel, Hong Sang-Soo ou Tsai Ming-Liang.
O filme, que é uma produção da Primeira Idade e tem distribuição internacional da Portugal Film — Agência Internacional de Cinema Português, já foi seleccionado em mais de 30 festivais internacionais, nos Estados Unidos, Rússia, Espanha, Grécia, Coreia, Canadá, Polónia, Brasil, México, Austrália, Itália, entre outros. O filme, acrescenta a Portugal Film, já foi vendido para o território chinês, onde terá estreia comercial.
O Festival de Cinema de San Sebastián, que terminou este fim-de-semana e abriu a 68.ª edição com o novo filme de Woody Allen, Rifkin’s Festival, atribuiu também o Prémio Donostia a Viggo Mortensen, uma distinção honorária para o actor que este ano apresentou Falling, a sua estreia na realização.