Pode parecer uma piada ou um meme, mas não é. A pequena medalha que vemos no pescoço de Magawa, um rato de sete anos, é mesmo real — e foi merecida. Afinal, ele é capaz de fazer em 30 minutos algo que a um humano com um detector de metais levaria, pelo menos, quatro dias: percorrer uma área equivalente a um campo de ténis e encontrar minas. Esse é o trabalho que desempenha todos os dias no Camboja e foi essa missão que lhe valeu uma medalha de bravura e dedicação.
Desde que começou a ser treinado pela organização belga Apopo, que se dedica a treinar ratos, Magawa, que é da espécie Cricetomys gambianus, já descobriu 39 minas e 28 munições não detonadas. O que significa que já “fiscalizou” mais de 141 mil metros quadrados — o equivalente a 20 campos de futebol — e, mais importante, que impediu que vidas se perdessem. Por isso mesmo, foi distinguido com uma miniatura da medalha de ouro PDSA, o equivalente à Cruz de Jorge (a mais alta condecoração civil no Reino Unido) para animais.
Tornou-se, assim, no primeiro rato a receber este prémio na história da People's Dispensary for Sick Animals (PDSA), organização britânica que o atribui e que já soma 77 anos. “Receber esta medalha é uma honra para nós. Especialmente para os nossos treinadores de animais, que acordam muito cedo, todos os dias, para treiná-los”, referiu Cristophe Cox, director da Apopo, ao The Guardian. “Mas também é importante para as pessoas do Camboja e para todas as pessoas, de todo o mundo, que sofrem com minas. Esta medalha leva o problema das minas à atenção global”, continua.
O director da Apopo explica que os ratos são inteligentes e capazes de desempenhar tarefas repetitivas em troca de prémios melhor do que outros animais. Além disso, o seu tamanho permite que corram menos perigo quando percorrem um campo minado.
Antes de serem certificados, os ratos são treinados, durante um ano, para detectar componentes químicos em explosivos. Assim que detectam uma mina, escavam a terra até ao topo, avisando os treinadores. E trabalham bem cedo, todos os dias, durante meia hora.
Estima-se que entre quatro a seis milhões de minas tenham sido enterradas no Camboja entre 1975 e 1998, tendo já causado mais de 64 mil mortes — e tornando o país naquele com maior número de amputados per capita (mais de 40 mil pessoas). Quase a chegar à idade da reforma, Magawa trabalha para que estes números parem de aumentar. Uma salva de palmas para este rato, por favor.