Ministro do Interior francês qualifica ataque que fez dois feridos em Paris de “acto terrorista islâmico”
Polícia deteve cinco suspeitos. Unidade de antiterrorismo da polícia francesa está a investigar o ataque, que fez dois feridos.
Dois colaboradores de uma produtora francesa de programas de investigação jornalística com sede em Paris, no mesmo edifício onde funcionou durante anos a redacção do jornal satírico Charlie Hebdo, foram esfaqueados na rua, na tarde desta sexta-feira, quando faziam uma pausa no trabalho.
A polícia deteve cinco suspeitos, entre estes um jovem de 18 anos nascido no Paquistão e um homem argelino, e admite a hipótese de se tratar de um ataque inspirado pelo atentado de 2015. Os restantes suspeitos, com idades compreendidas entre 24 e 37 anos, foram detidos durante uma busca a uma das supostas casas do principal suspeito do ataque.
O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, afirmou, esta noite, que o ataque foi um “acto terrorista islâmico” contra França e contra os jornalistas. “Manifestamente é um ato de terrorismo islâmico. É um novo ataque sangrento contra o nosso país, contra os jornalistas”, disse o ministro em declarações no canal de televisão France 2.
Une attaque à l’arme blanche a été perpétrée à proximité des anciens locaux de l’hebdomadaire Charlie Hebdo.
— Jean Castex (@JeanCASTEX) September 25, 2020
Je me rends immédiatement place Beauvau pour faire un point sur la situation avec le ministre de l’Intérieur @GDarmanin.
O governante precisou que o atacante chegou a França há três anos, com estatuto de menor não acompanhado, mas não estaria identificado como um jovem radicalizado. “Ele não era ficha S [identificado como possível radical islâmico pelas autoridades francesas], não era conhecido por radicalização. Ele foi identificado por porte de arma, uma chave de fendas aparentemente, mas ainda era menor. Foi sujeito a uma chamada de atenção dessa vez”, detalhou o ministro.
Tendo o ataque acontecido junto ao prédio onde ocorreram os atentados à redacção do jornal satírico Charlie Hebdo em 2015, Darmanin disse que a zona foi “subavaliada” em termos de segurança. “Pedi ao prefeito de polícia para nos dizer porque é que a ameaça foi subavaliada nesta rua”, esclareceu, já que este ataque acontece durante o julgamento do processo dos ataques ao Charlie Hebdo que decorre desde Setembro no Tribunal de Paris.
Gérald Darmanin disse ainda que a segurança será reforçada nas sinagogas devido às comemorações do Yom Kippour, que acontecem domingo e segunda-feira.
As duas vítimas são um homem e uma mulher, ambos trabalhadores na empresa Premières Lignes. Segundo o primeiro-ministro francês, Jean Castex, estão ambos fora de perigo apesar da gravidade dos ferimentos que sofreram. O jornal Le Monde avança que duas pessoas que ficaram feridas já tinham sido testemunhas do atentado ao Charlie Hebdo.
O principal suspeito foi detido na Praça da Bastilha e, segundo o Le Figaro, tinha vestígios de sangue na roupa. O homem mais velho foi detido pouco depois junto à estação de metro Richard-Lenoir. A polícia está ainda a verificar a relação entre os dois homens.
Motivações desconhecidas
As motivações na origem do ataque não foram avançadas de imediato e a investigação está a ser liderada pela unidade de antiterrorismo, devido ao local onde ocorreu e por acontecer no mês em que começou o julgamento dos cúmplices do atentado terrorista na antiga redacção do Charlie Hebdo.
À travers ce lieu hautement symbolique, c’est une fois encore la liberté d’expression qui est visée.
— Anne Hidalgo (@Anne_Hidalgo) September 25, 2020
Nous devons rester vigilants et mobilisés pour défendre ce pilier de notre République et protéger nos citoyens.
O primeiro-ministro francês deslocou-se ao local do ataque e condenou a violência, reiterando a “solidariedade” do Governo com as famílias das vítimas.
“Este ataque ocorreu num lugar simbólico, ao mesmo tempo que decorre o julgamento dos ataques ultrajantes contra o Charlie Hebdo. Esta é uma oportunidade para o Governo expressar o seu compromisso com a liberdade de imprensa e com o combate ao terrorismo e de reafirmar a mobilização total da nação”, disse Jean Castex.
A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, também esteve no local, onde agradeceu às autoridades e disse que os franceses devem continuar vigilantes perante o terrorismo.
“Neste lugar simbólico, a liberdade de expressão foi novamente visada. Devemos permanecer vigilantes e mobilizados para defender este pilar da nossa república e proteger os nossos cidadãos”, disse Hidalgo.
Nouvelle attaque à l’arme blanche devant les anciens locaux de #CharlieHebdo.
— Charles Michel (@eucopresident) September 25, 2020
Toutes mes pensées vont aux victimes de cet acte de violence lâche.
La terreur n’a pas de place sur le territoire européen.
Pleine solidarité avec le peuple français dans cette nouvelle épreuve.
A União Europeia, pela voz do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou solidariedade com a França e condenou o ataque. “Todos os meus pensamentos estão com as vítimas deste cobarde acto de violência. O terror não tem lugar na Europa”, disse Charles Michel no Twitter.
No local do ataque foi encontrada uma arma branca, descrita por algumas testemunhas como um cutelo.
“Dois colegas estavam a fumar um cigarro no exterior do edifício. Ouvi gritos, fui à janela, e vi uma das minhas colegas coberta de sangue, a ser perseguida por um homem com um cutelo”, disse um funcionário da produtora à AFP.
As autoridades montaram um cordão policial na área e pediram à população para evitar as zonas próximas à Avenida Richard-Lenoir, onde ocorreu o ataque. Por precaução, as creches e escolas nas proximidades foram encerradas, assim como as estações de metro. Junto às antigas instalações do jornal satírico foi criado um perímetro de segurança devido à presença de um “pacote suspeito”, mas não foram encontrados quaisquer engenhos explosivos.
Através da sua conta oficial no Twitter, os jornalistas do Charlie Hebdo partilharam uma mensagem de solidariedade: “Toda a equipa do Charlie Hebdo oferece apoio e solidariedade aos antigos vizinhos e colegas da Premières Lignes e a todos os afectados por este ataque hediondo.”
Toute l'équipe de Charlie apporte son soutien et sa solidarité à ses anciens voisins et confrères @PLTVfilms et aux personnes touchées par cette odieuse attaque.
— Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) September 25, 2020
O julgamento dos atentados terroristas do Charlie Hebdo, que causaram 12 mortos e cinco feridos, começou no início deste mês de Setembro e 14 pessoas, incluindo três fugitivos, estão a ser julgados pelo massacre. Para esta sexta-feira estavam previstos os testemunhos das viúvas dos atacantes.
Recentemente, a Al-Qaeda fez ameaças contra o Charlie Hebdo, depois de o jornal satírico ter republicado os cartoons do profeta Maomé para marcar o início do julgamento dos cúmplices dos terroristas que atacaram a sua redacção em Paris, em 7 de Janeiro de 2015.