Crescimento das rendas congelou a partir de Março

As estatísticas semestrais do valor das rendas ainda se fazem em terreno positivo, mas desde Março que a variação praticamente congelou. E o número de contratos está a aumentar, pela primeira vez.

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Adriano Miranda / Publico

O crescimento do valor das rendas que, até Março de 2020, mantinha uma taxa de variação de 10% travou a fundo no segundo trimestre de 2020, deixando perceber o real impacto da pandemia de covid-19 na variação dos contratos de arrendamento: a taxa de variação ainda é positiva, mas o crescimento é marginal, de 0,2%. O valor mediano das rendas dos novos contratos de arrendamento a nível nacional é, no final do segundo trimestre de 2020, de 5,41 euros por metros quadrado (€/m2).

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou esta quinta-feira as suas Estatísticas de Rendas da Habitação ao nível local, referente ao primeiro semestre mas, pela primeira vez, decompôs a análise em trimestres, o que permite ver claramente o impacto da pandemia na evolução das rendas.

Isto, porque foi no segundo trimestre de 2020 que houve mesmo uma redução do valor mediano das rendas, não só face ao primeiro trimestre de 2020 mas também em relação ao trimestre homólogo. O município de Cascais foi o que teve uma das maiores quebras, ao ver o valor das rendas medianas dos novos contratos celebrados no segundo trimestre de 2020 cair, em termos homólogos, 10,1% para 10€/m2. Em Lisboa, essa variação foi de -6,4% e o valor mediano das rendas é de 11,63 €/m2. No Porto, a variação também é negativa, mas menos expressiva: -1,1%, com a renda mediana a fixar-se em 8,79 €/m2. Mas também há municípios com mais de 100 mil habitantes em que o valor das rendas aumentou no mesmo período: é o  caso de Leiria (17,2%), Loures (15,7%), Vila Nova de Famalicão (14%), Seixal (12,5%) ou Amadora (11,6%).

O boletim com as estatísticas de rendas de habitação a nível local é divulgado desde o segundo semestre de 2017, e esta é a primeira vez que se assiste a um aumento no número de novos contratos celebrados relativamente ao mesmo período do ano anterior: o crescimento foi de 3,8%, quando no semestre anterior o registo foi de queda, e na ordem dos 6,4%. O valor das rendas situou-se acima do valor nacional nas sub-regiões Área Metropolitana de Lisboa (8,42 €/m2), Algarve (6,54 €/m2), Região Autónoma da Madeira e Área Metropolitana do Porto (ambos com 5,98 €/m2).

À semelhança de semestres anteriores, a Área Metropolitana de Lisboa concentrou cerca de um terço dos novos contratos de arrendamento (24.185). As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto representaram, em conjunto, 50% do total de novos contratos do país e o Algarve 5,8%. O Alto Tâmega apresentou o menor número de novos contratos de arrendamento (435).

O município de Lisboa registou o maior número de contratos de arrendamento do país, com 6841 novos contratos celebrados nos últimos 12 meses, mais 9,1% que no período homólogo. Assinala-se ainda, com um número de novos contratos superior a 2500, os municípios do Porto (3115) e Sintra (2799). 

Alojamento Local perdeu quase 3 mil fogos

Centrando a analise nos municípios onde foram celebrados mais contratos de alojamento, percebe-se que em 10 das 24 freguesias de Lisboa se registaram taxas de variação negativas, em termos homólogos: Carnide (-8,9%), Estrela (-3,4%), São Vicente (-1,9%), Avenidas Novas (1,4%), Parque das Nações (-1,2%), Benfica e Marvila (ambos com -1,1%), Belém (-0,7%), São Domingos de Benfica e Penha de França (ambos com -0,6%). No caso do Porto, só a União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde registou uma quebra de rendas, de 3,2%, estando agora o valor das rendas fixado em 9,31 euros por metro quadrado. Esta quebra retirou esta freguesia do pódio das mais caras do Porto, entregando o lugar a Lordelo do Ouro e Massarelos, que registou um aumento homólogo de 6,7% estando nos 9,4 €/m2.

O facto de alguns imóveis terem saído do Alojamento Local (AL) pode ajudar a explicar esta trajectória em algumas destas freguesias, mas não explica tudo. É expectável que a passagem destes fogos para o arrendamento tradicional esteja a pressionar a queda do preço das rendas por causa do aumento da oferta. Mas esse movimento ainda não é claro em todas as freguesias. 

De acordo com os dados apurados pela Confidencial Imobiliário, o universo de apartamentos T0 e T1 que saíram da oferta activa de alojamento local nas cidades de Lisboa e Porto atingiu quase 2900 fogos. A empresa de estatística analisou os fogos que estavam em actividade em Junho de 2020 face a igual mês do ano passado e detectou que em Lisboa se contabilizavam menos 1744 apartamentos T0 e T1 ativos. E que permaneciam em actividade 3468 fogos (em Junho do ano passado eram 5212). No Porto estão activos menos 1158 apartamentos T0 e T1 no circuito de AL no espaço de um ano, com a oferta actual activa na cidade a contabilizar 2536 fogos. 

A Confidencial Imobiliário apura estes valores considerando os apartamentos de tipologia T0 e T1 com registo de AL listados nas plataformas de reserva e que exibem actividade de vendas e ocupação regulares. Foi assim que conseguiu perceber que nas freguesias de Misericórdia e de Santa Maria Maior, no centro histórico de Lisboa, saíram do mercado, respectivamente, 435 e 388 apartamentos. De acordo com o INE, o valor das rendas por m2 na freguesia da Misericórdia cresceu 2,8% em termos homólogos e está nos 14,42€/m2. No caso da freguesia de Santa Maria Maior, a variação foi ainda mais expressiva, de 4,3% e o valor mediano da renda é de 13,73€/Mm2.

Dos apartamentos retirados de actividade na cidade do Porto, a Confidencial Imobiliário contabilizou 853 na União de Freguesias do Centro Histórico, que inclui Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória. Aqui, de acordo com o INE, a variação foi positiva, de 4,7%, e o valor mediano é de 9,31 €/m2. De acordo com a Confidencial Imobiliário, em Junho ainda estavam activos no Alojamento Local 2066 apartamentos neste território.

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