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Confinamento provoca maior taxa de poupança do século XXI

Receosos daquilo que irá acontecer à economia e limitados nas suas compras por causa do confinamento, os portugueses cortaram, em média, muito mais no consumo do que aquilo que foi a sua quebra de rendimento.

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Paulo Pimenta

Durante o segundo trimestre do ano, no auge das medidas de confinamento impostas pelo Governo, os portugueses deixaram, em média, mais de 20% do seu rendimento por gastar, colocando a taxa de poupança no valor mais alto de que há registo desde pelo menos 1999.

Os dados das contas nacionais até ao passado mês de Junho publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam uma evolução da taxa de poupança das famílias nunca vista durante as duas últimas décadas em Portugal. A taxa de poupança – que revela a parte do rendimento disponível das famílias que não foi gasta em consumo – foi, durante o segundo trimestre deste ano, de 22,6%.

É o valor mais alto na série publicada pelo INE desde 1999 para este indicador, ultrapassando mesmo as taxas de poupança registadas nos quartos trimestres, o período do ano em que este indicador normalmente é mais elevado pelo facto de se concentrar aí o recebimento do subsídio de Natal.

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Olhando para a taxa de poupança nos 12 meses terminados em cada trimestre, verifica-se uma subida de 7,5% no primeiro trimestre para 10,6% no segundo, também a maior subida de que há registo desde 1999. No primeiro trimestre, já se tinha registado uma subida neste indicador.

A explicação para estes resultados é evidente nos restantes dados publicados pelo INE. O que aconteceu é que as famílias portuguesas, em média, cortaram bem mais no consumo do que aquilo que foi a sua perda de rendimento disponível.

No auge da pandemia, o rendimento disponível diminuiu 1,5% face ao período homólogo do ano anterior, naquela que é a maior descida desde 2014. Mas em simultâneo, o consumo das famílias caiu uns nunca vistos 14,6%, conforme confirmou esta quarta-feira o INE.

A contribuir para esta quebra tão abrupta do consumo terá estado, por um lado, uma atitude de maior prudência dos portugueses perante a expectativa de uma recessão económica e um aumento do desemprego, num fenómeno muito habitual durante as crises. Mas terá também contribuído de forma decisiva a maior dificuldade que existiu, durante o período de confinamento mais estrito, em realizar determinados tipos de consumos. Uma das diferenças mais óbvias foi, por exemplo, a redução da ida a restaurantes por parte da generalidade da população.

O resultado combinado destes dois fenómenos foi, em média, um aumento da taxa de poupança das famílias portuguesas, mesmo sabendo-se que, numa parte também importante da população – aquela que perdeu logo de imediato as principais fontes do seu rendimento – não terá havido já no segundo trimestre do ano qualquer espaço de manobra para realizar poupanças.

Para os próximos trimestres, a evolução do indicador da poupança dependerá, por um lado, do ritmo de descida do rendimento disponível e da forma como as famílias irão continuar a reagir ao cenário de crise económica, já que são agora bastante menores as limitações ao consumo provocadas pelo confinamento.

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