Associação Milvoz quer impedir abate de “milhares de árvores” na Serra da Lousã

Várias espécies de árvores estão a ser marcadas para abate no alto da serra, entre o Trevim e a Catraia.

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A Milvoz - Associação de Protecção e Conservação da Natureza quer impedir o abate milhares de árvores no topo da Serra da Lousã, entre o Trevim e a Catraia. Entre as árvores que estão marcadas para abate com pequenas talhas estão carvalhos-alvarinhos, carvalhos-negrais, castanheiros, bétulas, freixos, pinheiros-silvestres, abetos e pinheiros-negros, aponta a associação.  

A situação foi detectada por acaso, explica o presidente da Milvoz, Manuel Malva, ao PÚBLICO. O biólogo estava de passagem quando se deparou com os funcionários que estavam a realizar a marcação das árvores, em terrenos que ladeiam uma estrada no alto da Serra da Lousã, uma área do concelho com o mesmo nome inserida na Rede Natura 2000. 

Manuel Malva conta que, ao aperceber-se das marcações, interpelou os funcionários, que lhe terão mencionado que o trabalho estava a ser conduzido pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Sobre os motivos do corte de tamanha mancha de floresta, foi-lhe dito que eram “razões fitossanitárias”, sem que tenham sido especificadas quais. “São árvores aparentemente saudáveis, algumas com boas décadas em cima”, diz. “Pedi para me dizerem as bases e não conseguiram esclarecer”, acrescenta, referindo que os funcionários se deslocavam numa carrinha com o símbolo daquela entidade do Estado. Depois de invocarem a lei da faixa de gestão combustível (que prevê o corte de vegetação que ladeia a estradas, com excepção de algumas espécies) disseram que, além dessas, “andavam a marcar as árvores tortas e aleijadas”, conta.

A Milvoz enviou pedidos de informação a vários departamentos do ICNF sobre esta operação, refere o biólogo, não tendo obtido resposta. Também o PÚBLICO procurou obter esclareceimentos junto do instituto público, sem sucesso até agora.  

Numa publicação nas redes sociais, a associação que é responsável pela criação e manutenção de uma reserva natural privada, nos arredores de Coimbra, classifica o corte como “crime ambiental” e “um atentado ao património natural, paisagístico e turístico de uma das zonas mais ricas da região”. 

“Estes bosques foram plantados durante o Estado Novo, em campanhas de florestação das serranias”, contextualiza Manuel Malva. “Têm um valor ecológico e de suporte da biodiversidade muito grande”, explica. Além da importância na preservação de habitats, esta mancha florestal é também “importante do ponto de vista turístico” para a região”. 

O biólogo sublinha que a Milvoz não se opõe a uma “gestão de árvores que estejam mais debilitadas e que possam representar um perigo para a circulação na estrada”. Mas diz que a operação em curso vai muito além disso. “Parece-nos uma intervenção mais acentuada do que seria desejado”, lamenta. E isso não é só um problema para as árvores que serão cortadas, mas também para as que ficam. “Vão reduzir muito a floresta numa zona muito alta da Serra da Lousã”, em terrenos que estão “muito expostos a ventos”, refere. A consequência previsível é que essa área fique mais vulnerável a fenómenos extremos “o que pode levar a uma decadência sucessiva da restante floresta”, avisa.  

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