Salvini não consegue tirar a Toscana ao Partido Democrata e passa a ser um líder ameaçado

A candidata escolhida a dedo pelo líder da Liga saiu derrotada e deixa Salvini exposto aos críticos internos.

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Uma vitória na Toscana era essencial para Salvini se lançar para a reconquista do Governo nacional LUSA/MATTEO CORNER

O candidato do Partido Democrata (PD) às eleições regionais na Toscana derrotou a sua adversária da coligação de direita, de acordo com os primeiros resultados revelados ao fim da tarde desta segunda-feira. O resultado é um forte golpe nas ambições traçadas pelo líder da Liga, Matteo Salvini, que fica numa posição de extrema fragilidade.

Mais de 18 milhões de italianos foram chamados a votar em eleições em sete regiões – Toscana, Veneto, Ligúria, Apúlia, Campânia, As Marcas e Vale d’Aosta (região francófona com o seu próprio sistema partidário) – que se prolongaram por dois dias para evitar ajuntamentos nos locais de voto. Em todo o país também se votou num referendo para diminuir o número de parlamentares.

À superfície, a jornada eleitoral foi positiva para a direita, que se conseguiu manter no poder nas duas regiões que já governava – o Veneto e a Ligúria – e venceu em As Marcas, até agora governada pelo PD. No entanto, era no duelo na Toscana que todas as atenções se concentravam.

A região é um bastião histórico da esquerda que, nas suas várias mutações, sempre a governou. Uma vitória da coligação liderada pela Liga na Toscana seria um impulso fundamental para que a direita voltasse ao poder a nível nacional. O próprio Salvini reconheceu essa possibilidade quando fechou a campanha em Florença, este fim-de-semana, onde prometeu regressar como chefe de Governo.

As projecções baseadas nos primeiros resultados oficiais atribuíam ao candidato do PD, Eugenio Giani, cerca de quatro pontos de vantagem sobre a candidata da direita, Susanna Ceccardi, uma escolha pessoal do líder da Liga, cuja derrota acentua ainda mais o dia mau para Salvini.

As más notícias para o homem-forte da Liga não ficaram por aqui. No Veneto, o actual governador Luca Zaia alcançou uma vitória retumbante, com mais de 70% dos votos, reforçando o seu desafio interno a Salvini como alternativa à liderança do partido.

A frustração na Toscana soma-se à derrota, em Janeiro, nas eleições da Emília-Romanha, outro bastião da esquerda onde Salvini contava vencer. A derrota marcou o fim de uma sequência vitoriosa para a direita italiana que esperava lançar-se à conquista do Governo nacional nas eleições de 2023.

Apesar de continuar a ser o partido mais popular, as sondagens mostram nos últimos meses uma queda na simpatia dos italianos pela Liga. A percepção actual é de que, depois do choque inicial, o Governo italiano geriu de forma razoável a pandemia da covid-19.

Alívio à esquerda

Para o PD, a manutenção da Toscana é sobretudo um alívio e reforça a posição do líder, Nicola Zingaretti. “Agora que ele e o PD estão mais fortes, o Governo pode seguir em frente”, disse o ministro da Cultura e dirigente importante do partido, Dario Franceschini. A esquerda conseguiu também manter-se no governo da Campanha.

Por apurar estão os resultados na Apúlia, actualmente governada pela esquerda, mas onde a coligação de direita tem boas possibilidades. As projecções indicam uma disputa taco-a-taco.

No entanto, mesmo que a direita vença na Apúlia, também aqui as notícias não são totalmente boas para Salvini. O candidato da coligação, Raffaele Fitto, foi imposto pelos Irmãos de Itália, o partido pós-fascista, parceiro da Liga, que tem subido de popularidade.

Os resultados deixam Salvini a anos-luz da imagem de líder poderoso que projectava até ao fim do ano passado. Na Liga, as facas começam a ser afiadas e antes de pensar em marchar triunfalmente rumo ao Governo nacional, Salvini terá de pacificar um partido em alvoroço e dividido e já nem a supremacia da Liga sobre o resto da direita parece estar garantida.

Na primeira reacção aos resultados, Salvini não abordou a derrota na Toscana, preferindo sublinhar que “a partir de amanhã [hoje], a Liga e o centro-direita estarão à frente de 15 das 20 regiões”.

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