Os elogios finais à “guerreira pela igualdade de género”
A morte de Ruth Bader Ginsburg, juíza progressista do Supremo Tribunal, mereceu reacções à esquerda e à direita, unânimes em sublinhar a sua voz inspiradora e legado importante que deixa à História dos Estados Unidos.
A morte aos 87 anos da juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos Ruth Bader Ginsburg levou a reacções de todos os quadrantes, com elogios a quem durante muitas décadas foi um símbolo da luta das mulheres e pela igualdade de direitos. Como escreveu o ex-Presidente Barack Obama, “durante quase três décadas, como a segunda mulher a sentar-se no mais alto tribunal do país, foi uma guerreira pela igualdade de género”.
Na sua declaração, Obama refere que a juíza que há mais tempo servia no Supremo era “alguém que acreditava que a igualdade perante a lei só fazia sentido se for aplicada a todos os americanos sem excepção”.
Exaltando ao mesmo tempo esse legado, Obama não deixou de enviar o recado ao Partido Republicano e, sobretudo, ao líder do Senado, Mitch McConnell, que pretende acelerar o processo de escolha de um novo juiz para o Supremo Tribunal antes das eleições de 3 de Novembro.
“Um princípio básico da lei – e da equidade quotidiana – é que aplicamos as leis com consistência e não com base em conveniências ou vantagens do momento”, escreveu o antecessor de Donald Trump na Casa Branca, lembrando aos republicanos que há quatro anos e meio se recusaram a marcar a audição do nome que ele tinha proposto para a vaga do Supremo e, por isso, agora, a mês e meio das eleições, devem fazer o mesmo: “Os senadores republicanos são chamados a aplicar esse princípio”.
Outro ex-Presidente, Bill Clinton, lembrando “um dos mais extraordinários juízes a servir no Supremo Tribunal”, que conseguiu fazer com que os Estados Unidos se tornassem “mais próxima de uma união mais perfeita”, não se esqueceu de referir que as “suas dissensões poderosas” lembravam sempre que quando o país se esquecia das promessas da Constituição era “por sua conta e risco”.
Sem se imiscuir na questão política da ocupação da vaga deixada livre por Ruth Ginsburg, o antigo Presidente referiu os muitos anos que a juíza dedicou “na procura da justiça e da igualdade”, tendo com isso “inspirado mais de uma geração de mulheres e raparigas”.
Também o attorney general William Barr disse que Ruth Ginsburg “será, se calhar, lembrada sobretudo por inspirar as mulheres no Direito e para lá dele”. Chamando-lhe uma “litigante brilhante e bem sucedida, uma admirada juíza dos tribunais de recurso e uma juíza do Supremo Tribunal profundamente influente”. Para Barr, a juíza Ginsburg deixa um “enorme legado”.
Em tempos de grandes divisões, num país partido em dois, cuja separação se aprofundou com os quatro anos de mandato de Donald Trump, houve quem lembrasse a amizade entre Ruth Ginsburg e o seu colega no Supremo Anthonin Scalia, que morreu em 2016, juiz conservador com quem divergia habitualmente. “Na nossa política moderna de divisão, a amizade entre os juízes Ginsburg e Scalia era um exemplo do modelo de respeito que as pessoas têm umas pelas outras mesmo se discordam”, escreveu o padre Pius Pietrzyk, professor de estudos pastorais da Universidade St. Patrick.
Ao saber da morte, o Presidente Trump chamou-lhe “uma mulher fantástica que levou uma vida fantástica” e na sua declaração oficial sobre o assunto, também ressaltou a capacidade de “demonstrar que uma pessoa podia discordar sem ser desagradável em relação a um colega ou ponto de vista”. Referindo também que as suas decisões em relação aos direitos das mulheres e das pessoas com deficiência “inspirou todos os americanos e gerações de especialistas do Direito”.
A antiga secretária de Estado e candidata à presidência Hillary Clinton escreveu no Twitter que “a juíza Ginsburg abriu caminho para muitos mulheres” e que “nunca mais haverá uma como ela”, Enquanto a senadora democrata Elizabeth Warren, que entrou na corrida democrata para a presidência, agradecia a Ruth Ginsburg por ser um exemplo para ela quando entrou na universidade para estudar Direito: “Para uma jovem mãe que entrava na Faculdade de Direito da Universidade de Rutgers havia poucos exemplos de mulheres na advocacia ou ensinando Direito. Mas Ruthie abriu o caminho. Fico-lhe grata para sempre – eu e milhões de jovens mulheres que a viam como modelo a seguir.”