Sindicato médico alerta para “rotura iminente” de alguns serviços de urgência

O sindicato dá o exemplo do Hospital de São José, em Lisboa, onde várias vezes há apenas um médico para dezenas de utentes e critica Governo por pôr “em causa a saúde dos doentes e o desempenho profissional dos médicos”.

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Sindicato mostrou-se preocupado com a escassez de médicos no serviço de urgências de adultos no São José Andreia Gomes Carvalho

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) alertou esta sexta-feira para a “rotura iminente” de alguns serviços de urgência na área metropolitana de Lisboa, dizendo que no Hospital de São José por vezes, há apenas um médico para dezenas de doentes.

“A escassez de recursos médicos, em alguns centros hospitalares da área de Lisboa e Vale do Tejo, é tão marcante que serviços de urgência da Grande Lisboa não conseguem garantir a presença de equipas com elementos em número e diferenciação adequadas”, diz o SMZS, em comunicado.

Como exemplo desta degradação, o sindicato aponta o serviço de urgência de adultos no Hospital de São José, que “frequentemente conta com apenas dois a três médicos sem especialidade, contratados a recibos verdes, para prestar cuidados de saúde a doentes triados para observação pela especialidade de Medicina Interna”.

Com o aumento da afluência dos doentes aos serviços de urgência, estes médicos são por vezes responsáveis pelo atendimento de cerca de 70 a 80 doentes, “com as consequências previsíveis”, afirma.

O SMSZ diz que esta situação se agravou nos últimos tempos, “chegando a verificar-se agora períodos em que a urgência central de um dos maiores hospitais do país conta apenas com um médico, com vínculo precário, para observar o mesmo número de doentes”.

“Não é aceitável que este Governo e Ministério da Saúde permitam esta situação, que põe em causa a saúde dos doentes e o desempenho profissional dos médicos”, sublinha o sindicato.

A estrutura sindical diz que se tem mantido “a desestruturação de serviços, a saída de médicos do SNS [Serviço Nacional de Saúde] para o sector privado e o recurso recorrente ao trabalho médico com vínculo precário, frequentemente utilizado para preencher necessidades permanentes”.

“Ao contrário do que tem sido anunciado, o número de médicos contratado durante a pandemia é irrisório e muitos já não se encontram em funções, uma vez que terminaram já os contratos de quatro meses”, afirma o SMZS, recordando ainda que as contratações de recém-especialistas “não significam um verdadeiro reforço dos recursos humanos, uma vez que são médicos que já se encontravam a trabalhar no SNS”.

“Os próximos meses serão determinantes para avaliar a capacidade do SNS em dar resposta ao Outono/Inverno”, considera o sindicato, alertando que se verificam já “situações de extrema gravidade em serviços de urgência da capital e que exigem uma rápida intervenção por parte do Governo, de modo a garantir a continuidade do acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde”.

Na quinta-feira, o Hospital Amadora-Sintra anunciou o encerramento do Serviço de Urgência de Ginecologia-Obstetrícia no período nocturno, a partir de segunda-feira, por falta de recursos humanos para assegurar um atendimento eficaz às grávidas.

Durante o período nocturno, as grávidas deverão recorrer aos serviços de urgência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria), do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (Maternidade Dr. Alfredo da Costa), do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (Hospital São Francisco Xavier) e do Hospital de Cascais.

A Ordem dos Médicos já veio considerar preocupante este encerramento nocturno da urgência de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital Amadora-Sintra, alertando que poderá sobrecarregar os serviços de outros hospitais.