Mais 6312 mortes do que a média dos últimos cinco anos. Covid-19 não explica tudo
Segundo o Instituto Nacional de Estatística houve um aumento da mortalidade nas pessoas acima dos 70 anos e também se registou uma subida das mortes ocorridas fora dos hospitais.
Entre 2 de Março — data da primeira morte por covid-19 em Portugal — e 30 de Agosto morreram mais 6312 pessoas do que a média, em período homólogo, dos últimos cinco anos, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Houve um aumento da mortalidade nas pessoas acima dos 70 anos e também se registou uma subida das mortes ocorridas fora dos hospitais.
“O acréscimo da mortalidade, verificado a partir de Março, relativamente à média dos últimos cinco anos é explicado apenas em parte pelos óbitos covid-19”, salienta o instituto que contabiliza, no período analisado, 1822 mortes devido à covid. De acordo com o boletim, que apresenta dados preliminares, o acréscimo de mortes “atingiu um pico” na semana entre 6 a 12 de Abril, com os valores a descer “gradualmente” até ao final do estado de emergência. Mas em Maio, entre os dias 25 e 31, houve um “novo pico na mortalidade”.
Nas semanas de 8 a 21 de Junho a mortalidade voltou aos valores de anos anteriores, mas não permaneceu assim. “A partir da semana 26 (22 a 28 de Junho) voltou-se a assistir a um aumento da mortalidade em 2020 relativamente à média do período homólogo, atingindo o seu ponto mais elevado na semana 29 (13 a 19 de Julho), mais cerca de 800 óbitos”, lê-se na análise, que salienta que “não será sido alheio” o facto de de Julho ter sido um mês “extremamente quente e com ondas de calor”.
O INE explica que no período analisado, mais de 70% dos óbitos (41.370) foram de pessoas com 75 ou mais anos. E destes, 60% foram de idosos com 85 e mais anos. “Comparativamente com a média de óbitos observada no período homólogo de 2015-2019, morreram mais 5518 pessoas com 75 e mais anos, das quais mais 4371 com 85 e mais anos.”
Sobem mortes fora dos hospitais
O boletim do INE também destaca o aumento das mortes fora dos hospitais, embora a maior proporção de óbitos tenha sempre ocorrido neste tipo de estabelecimentos. Refere que “a proporção de óbitos em domicílio e outro local foi, a partir de 2 de Março, superior à média de 2015-2019, atingindo na semana 12 (16 a 23 de Março) 46,1% do total de óbitos nessa semana”.
“O excedente de óbitos fora do contexto hospitalar é importante ao longo de todas as semanas, mas especialmente até ao início de Junho (semana 23). Nas últimas semanas, o aumento de óbitos repartiu-se de forma mais equilibrada entre meio hospitalar e fora”, lê-se no boletim. Nestes seis meses 34.167 morreram em hospitais e 23.624 fora destas unidades. O que se traduz em mais 1695 e 4617 mortes, respectivamente, quando comparado à media de 2015-2019 em período idêntico.
Numa análise por regiões, “o maior acréscimo no número de óbitos relativamente à média 2015-2019 registou-se na região Norte, com excepção da última semana de Junho e das primeiras de Julho, em que este acréscimo foi superior na Área Metropolitana de Lisboa”.
Numa análise aos 24 países europeus que disponibilizaram dados ao Eurostat relativos ao número de óbitos por semana, e para os quais existe informação para todas as semanas de 2016 a 2019, “verifica-se que a mortalidade no conjunto destes países foi, nas primeiras semanas de 2020, inferior à média de 2016-2019”. “A partir do início de Março, contrariamente ao observado nos últimos anos, assistiu-se, em 2020, a um aumento significativo do número de óbitos atingindo um pico na semana 14 (30 de Março a 5 de Abril), mais 44% de óbitos do que nas mesmas semanas de 2016-2019.”
A mortalidade em Portugal “seguiu, até esse momento, uma evolução semelhante, apresentando todavia uma diferença relativamente à média inferior, abaixo de 25%”. “Nas semanas seguintes a mortalidade na Europa aproximou-se da média. Em Portugal, apesar de um período inicial caracterizado pela redução da sobremortalidade, esta voltou a aumentar, continuando a manter-se afastada da média até à semana 23”, diz o INE.