Curto e directo, Samuel Úria não se fica: vai além

Firma-se como um clássico que se entrega às canções com verve electrizante e comprometida com este tempo de incertezas, contradições, bastas irritações e desejadas esperanças.

Foto
Rui Gaudêncio

As cores da capa, qual penumbra desmaiada, e o dinamismo que a imagem sugere (ilustração de Samuel Úria sobre foto de Vera Marmelo) caem bem a esta curta colecção de canções em que zangado grito de alerta e delicada introspecção se harmonizam num só corpo. A guerra a que o título alude são, afinal, diversas: as da idade que avança, com a prata a chegar aos cabelos e as memórias arquivadas nos sulcos dos olhos; as de tanta energia posta ao serviço de mudanças que teimam em afundar-se em gritos isolados que não chegam a voz colectiva; aquela que Úria trava com esse “resguardo beirão” que ergue biombos perante a transparência das palavras; a guerra perante a insensibilidade, a hipocrisia da desigualdade, a destruição de empatia e generosidade, o deixa andar que não anda — e uma frustração que cresce nos dentes: “fica aquém!”.

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