Filmar contra o olhar da televisão
O Fim do Mundo contém algo de bastante forte politicamente: a interioridade do seu olhar sobre o bairro é o reverso do olhar com que as imagens televisivas costumam captar este ou outros bairros similares.
O luso-suíço Basil da Cunha volta à Reboleira, seis anos depois de Até Ver a Luz, para a sua segunda longa-metragem, O Fim do Mundo. Que é, pelo menos, um sinal do fim de um mundo: como em No Quarto da Vanda, de Pedro Costa, que registava a demolição do bairro das Fontainhas durante um processo de “requalificação urbana”, também o filme de Basil traz testemunho da ameaça da alteração radical da vida de uma comunidade, pois igualmente aqui, neste bairro da Reboleira habitado maioritariamente por imigrantes ou descendentes de imigrantes de origem cabo-verdiana, a transformação da paisagem está em curso e o fim do bairro anuncia-se. O trabalho de Pedro Costa é obviamente uma referência importante para os filmes de Basil da Cunha, é como se ele seguisse o mesmo ímpeto, aproveitasse a porta que Costa deixou entreaberta.
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