Queixas na saúde aumentam quase 80%. Foram mais de 3000 desde Março

Nos centros de saúde, a principal reclamação foi a dificuldade em marcar consultas. Nos hospitais e clínicas privadas, queixas relativas a “facturação errada” lideram. Há mais reclamações no privado. Dados são do Portal da Queixa.

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Reclamações nos hospitais privados aumentaram 92%, nos públicos 37% Miguel Manso

Desde o início da pandemia, em Março, e até 14 de Setembro, o Portal da Queixa recebeu 3012 reclamações dirigidas ao sector da saúde, um aumento de 77% face ao mesmo período no ano passado. Os dados avançados nesta terça-feira revelam que o sector privado concentra 58% das reclamações, enquanto o público reúne 42%. Dificuldade de contacto para marcar consultas nos centros de saúde e facturação considerada errada em hospitais e clínicas privadas são duas das principais queixas. 

Na análise feita pela equipa deste portal, plataforma online onde os consumidores podem registar as suas reclamações, em ambos os sectores, público e privado, a média da avaliação dos portugueses ao serviço prestado é de 4 em 10.

Assim, se este ano o total de queixas foi, neste período, de 3012, no ano passado foi 1703 – o sector privado soma 1734 reclamações; o público 1278. Ainda de acordo com o estudo do Portal da Queixa, os principais alvos de queixas foram as farmácias (568 reclamações), os hospitais públicos (530), os centros de saúde (524), e os hospitais privados (454). Estes são os números das queixas, mas, analisando os dados tendo em conta as entidades que registaram o maior aumento de um ano para o outro, nos quatro primeiros lugares da lista estão as farmácias, seguindo-se os centros de saúde, os hospitais privados e as clínicas privadas. A título de exemplo, de 2019 para este ano, as queixas aumentaram 92% nos hospitais privados e 37% nos públicos.

As farmácias registaram o maior aumento face a 2019: uma subida de 284%, de acordo com o comunicado enviado nesta terça-feira às redacções. O principal motivo, neste caso, relaciona-se com a venda de máscaras (58%), nomeadamente com o “tempo de espera e escassez do produto”, seguindo-se o aumento dos preços do gel desinfectante (37% das queixas).

Já os centros de saúde (com um aumento de 186% face ao ano passado) registaram como principal motivo de reclamação a dificuldade de contacto para a marcação de consultas (56% das queixas). Nos hospitais públicos, 21% das reclamações foram originadas pelo serviço prestado e pelo que os consumidores consideraram ter sido “mau atendimento”.

Quanto às queixas no sector privado, o principal problema, relatado em hospitais e clínicas privadas, relaciona-se com a “facturação errada” de “valores indevidos” (43%). A cobrança de taxas de kits de protecção para a covid-19 motivou 23% das reclamações, havendo ainda 12% de queixas relacionadas com o que os consumidores consideram ter sido mau atendimento.

Já nos laboratórios de análises clínicas, 27% das reclamações tiveram origem em questões relacionadas com os rastreios à covid-19.

Os distritos em que os portugueses mais reclamaram do sector público foram Lisboa, Porto e Setúbal. No privado, foram Lisboa, Porto, Braga e Setúbal. Em ambos os sectores, quem mais queixas apresentou foram as mulheres (59% no público e 63% no privado) e a faixa etária dos que mais reclamaram situa-se, em ambos os sectores, entre os 25 e os 54 anos de idade.

Na nota enviada à imprensa, o CEO do Portal da Queixa, Pedro Lourenço, entende que os dados recolhidos mostram que “o Serviço Nacional de Saúde continua a registar taxas de insatisfação muito elevadas de ano para ano”, notando ainda que os “indicadores de redução do número de reclamações”, verificados nos “canais do Estado, nomeadamente no Livro Amarelo e de Reclamações”, “induzem em erro na interpretação do actual estado do sector”. O mesmo responsável considera, no entanto, que o sector privado “continua a não ser uma alternativa viável para a maioria das famílias portuguesas” devido à “cobrança de valores exagerados”.

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