Sarar feridas e garantir bem-estar psicológico é o grande desafio das escolas no regresso às aulas
Unicef e Ordem dos Piscólogos Portugueses divulgam recomendações para ajudarem pais, professores e directores a acompanharem as crianças e jovens neste regresso especial às escolas.
Será que as crianças e jovens vão chegar bem às escolas? Esta é uma pergunta transversal a todos os países onde os estudantes (mais de um milhão e meio) foram enviados para casa durante meses devido à pandemia da covid-19. E a resposta não é propriamente optimista.
Durante o período de confinamento, os alunos poderão ter passado por experiências “de doença, de perda luto por alguém próximo”, vivido uma “ruptura com o estilo de vida anterior devido a dificuldades financeiras familiares” ou terem sido expostos a situações de “abuso e negligência”, entre outros factores de risco enumerados num publicação conjunta da Unicef e da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), que se destina a ajudar pais, directores e professores neste regresso às escolas, que em Portugal arrancou nesta segunda-feira,
“No caso das crianças e jovens, o período de encerramento das escolas significou novas barreiras ao seu desenvolvimento social, psicológico e educativo, agravando situações de desigualdade já existentes e colocando em causa dimensões fundamentais da sua vida (como a quebra de rotinas, brincadeiras e contactos sociais)”, alerta-se neste documento, para assinalar que o regresso à escola poderá assim “ser particularmente desafiante este ano lectivo, exigindo medidas específicas de suporte, que promovam uma reintegração escolar que, por sua vez, assegure a saúde física, mas também psicológica e garanta o bem-estar da criança”.
Evitar punições
“As escolas devem estar preparadas para responder a um conjunto diverso de necessidades de saúde psicológica, considerando o impacto emocional da pandemia”, frisam a Unicef e a OPP. Devem também “possuir procedimentos claros de avaliação de risco”, que tenham na base as vivências de perda que poderão ter sido experienciadas pelos alunos, de monitorização e intervenção precoce. Devem ainda admitir que existe “o potencial de aumento das taxas de abandono escolar, implementando medidas e estratégias de prevenção”.
Existem também procedimentos que devem ser evitados. Por exemplo, o cumprimento das novas regras e rotinas “deve ser ensinado e reensinado, evitando abordagens punitivas, sobretudo quando se trata de gerir a necessidade de distanciamento físico”. Por outro lado, os alunos podem “não estar preparados para se envolverem em actividades de aprendizagem formal até se sentirem fisicamente e psicologicamente seguros”. Não é uma meta fácil já que “pode levar semanas ou até meses” a ser alcançada.
No que respeita aos pais recomenda-se que transmitam aos seus filhos “confiança na escola” e que, entre várias outras atitudes, se foquem nas coisas que “as crianças e jovens podem controlar, como as práticas de higiene, em vez de nas coisas sobre as quais não têm controlo (por exemplo, a probabilidade de um colega adoecer ou a escola ter de voltar a encerrar).”
Para a Unicef e a OPP, há uma linha condutora que deverá presidir ao regresso às escolas que é a seguinte: “Numa situação em que planeamos o imprevisível, a prioridade deve ser responder às necessidades de aprendizagem social e emocional das crianças e jovens, bem como às necessidades de saúde psicológica e de bem-estar de toda a comunidade educativa”.