Vicente, um retrato
incompleto
Um homem sentado na esquina do mundo. Vicente Jorge Silva gostava desta metáfora para descrever um ponto privilegiado de observação onde queria estar. Podia ser uma esplanada no Funchal ou num espaço mais abrangente e difícil de localizar a lutar pela democracia. O retrato dele traça-se nesse espaço marcado pela curiosidade, pela contradição, pelo real e pela fantasia.
Era o início dos anos sessenta do século XX, Vicente Jorge Silva tinha uns 17 anos e vivia em Paris numa situação economicamente precária. Era a sua terceira paragem depois de ter deixado a ilha da Madeira. Primeiro Lisboa, depois Londres e por fim a ida para a cidade onde então moravam Maria Lamas e António José Saraiva. Seria uma estada breve, mas marcante para o rapaz que saiu do Funchal depois de quase ter sido expulso do liceu onde estudava, depois de ser chamado à PIDE, alegadamente por instigar actividades conspirativas contra o regime de Salazar. Entre o trabalho duro numa fábrica de cola e os passeios de braço dado com Maria Lamas, então com mais de 60 anos, pelo Boulevard Saint-Michel, Vicente arquitectou um plano, com outro amigo madeirense, o pintor Ara Gouveia: uma conspiração para tornar a Madeira um território livre e, a partir de lá, criar meios para derrubar a ditadura em Portugal. Não era um plano separatista, contou anos mais tarde, mas uma génese de liberdade.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.