Oposição no Mali rejeita plano de transição política da junta militar

Coligação partidária que liderou protestos contra o Presidente Keita, deposto num golpe de Estado, não aceita que o presidente interino seja um militar. Prazo de nomeação de um novo líder temporário termina na terça-feira.

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Apoiantes da junta militar em Bamako, capital do Mali EPA/H.DIAKITE

O Movimento 5 de Junho-União de Forças Patriótica (M5-RFP), composto pelos partidos da oposição que lideraram a onda de protestos no Mali contra o Presidente Ibrahim Boubacar Keita, deposto após um golpe de Estado em Agosto, rejeitou o plano de transição política da junta militar que detém o poder no país africano.

Segundo a oposição, o documento apresentado no sábado pelo Comité Nacional para a Salvação do Povo (CNSP) não reflecte os resultados dos três dias de negociações entre os militares e os líderes políticos e activistas representados, em Bamako, capital do Mali.

O objectivo das partes era definir e aprovar um roteiro político para o próximo ano, que inclui a nomeação de um presidente interino e o agendamento de eleições para o fim do período de transição no Mali, estabelecido em 18 meses pela junta militar.

Em consonância com a posição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a principal exigência do M5-RFP era que o presidente interino viesse da sociedade civil e fosse nomeado pelo CNSP até terça-feira.

O plano de transição da junta refere, no entanto, que o chefe de Estado temporário pode ser civil ou militar. Algo que não agradou à oposição, que acusou os militares de quererem “confiscar o poder”.

“O M5-RFP distancia-se do documento, que não reflecte as visões e as decisões tomadas pela população maliana”, anunciou a oposição, num comunicado divulgado no sábado à noite.

“O desejo de agarrar e confiscar o poder, para benefício do CNSP, não justifica os meios”, criticou o M5-RFP, citada pela Reuters.

O M5-RFP goza de enorme influência junto da sociedade civil, tendo liderado protestos de rua massivos dos últimos meses, iniciados em Abril, na sequência de uma decisão do Tribunal Constitucional, que deu razão às pretensões do partido União para o Mali, do Presidente Keita, para governar sem ter o apoio necessário no Parlamento.

A instabilidade política e social acabou por culminar num golpe de Estado a 18 de Agosto – o quarto desde 1960, quando o país da África Ocidental deixou de ser colónia francesa e se tornou independente – protagonizado pelo CNSP, que controla o poder político desde essa altura e que terá de tomar decisões urgentes nos próximos dias.

A comunidade internacional teme que a situação no Mali prejudique os esforços conjuntos no combate ao extremismo islâmico e ao separatismo na região do Sahel, na África Ocidental, e exige ao CNSP um plano de transição célere e equilibrado.

Os líderes da CEDEAO estarão, por isso, atentos à resposta que o CNSP vai dar à oposição, tendo previsto reunir-se na próxima terça-feira para decidirem o que fazer em relação ao Mali.

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