Governo do Afeganistão e Taliban iniciam negociações de paz históricas

Objectivo é, não só a paz, como chegar a um acordo de partilha do poder, num novo sistema político, que não se sabe como será. Evento acontece numa altura em que as tropas dos EUA estão a retirar-se do país.

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Delegação dos Taliban assiste às discussões sobre o futuro do Afeganistão,Delegação dos Taliban assiste às discussões sobre o futuro do Afeganistão EPA/STRINGER,EPA/STRINGER
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Sessão inaugural das negociações de paz, em Doha EPA/STRINGER

Representantes do Governo afegão e dos Taliban iniciam conversações de paz históricas neste fim-de-semana em Doha, no Qatar. O objectivo é chegar a um acordo de partilha do poder que permita pôr fim a anos de guerra – aquela em que os Estados Unidos entraram, após os atentados do 11 de Setembro de 2001, faz agora 19 anos – que destruiu o país e provocou milhões de refugiados, deslocados e mortos.

Estas conversações de paz realizam-se quando as tropas norte-americanas estão a fazer uma retirada faseada do Afeganistão, depois de um acordo feito pelos Estados Unidos com a liderança dos Taliban, em Fevereiro, que pressionaram o Governo de Cabul para libertar 5000 prisioneiros do grupo fundamentalista islâmico – o que só aconteceu mais recentemente.

Mas a violência continua a fazer parte do quotidiano dos afegãos – os atentados, sobretudo dirigidos contra minorias xiitas, feitos pelo braço do Daesh no país, continuam a acontecer, e os Taliban não puseram de parte os ataques e assassínios na capital, Cabul, e cidades próximas, diz o New York Times.

O objectivo, dizem críticos do processo, seria precisamente forçar o Governo afegão a sentar-se à mesa de negociações, mas com uma arma apontada à cabeça.

“Compete-vos escolher o sistema político que desejam”​, disse o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, na cerimónia de abertura das negociações, que só se iniciarão verdadeiramente no domingo. Será necessário um trabalho duro, com sacrifícios, mas é possível ter uma paz duradoura, afirmou o governante dos EUA.

Abdullah Abdullah, líder do Alto Conselho de Reconciliação Nacional e líder da delegação de Cabul, anunciou que iria propor um “cessar-fogo humanitário” na abertura nas negociações. “Viemos com boas intenções para parar os 40 anos de guerra, e conseguir a paz para todo o país”, afirmou.

O vice-líder dos Taliban, mullah Abdul Ghani Baradar, garantiu que o seu lado participaria nas conversações “com total sinceridade”, e apelou à calma e paciência.

Os Taliban têm-se concentrado em conseguir a saída das tropas norte-americanos do Afeganistão – eram eles que governavam, quando os EUA invadiram o país, em busca de Osama bin Laden, em 2001 – e não apresentaram planos alternativos para o Afeganistão, além de defenderem um “governo islâmico”.

Ora, isto suscita fortes reacções, pois quando governaram, na década de 1990, limitaram fortemente as liberdades civis e os direitos das mulheres e minorias.

O estado de guerra constante tornou o Afeganistão um país extremamente pobre: cerca de 90% da população vive abaixo da linha limite da pobreza, com menos de dois dólares por dia, diz o New York Times, citando o Presidente Ashraf Ghani, ex-quadro do Banco Mundial.

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