Ao fim de 30 anos, a obra da mobilidade do Mondego arrancou

“Um auto de consignação é o momento em que o Estado entrega ao empreiteiro a responsabilidade de fazer a obra”, disse Pedro Nuno Santos, sublinhando que é desta que o projecto avança. Foram consignados 30 quilómetros do Metrobus entre Serpins e o Alto de S. João em Coimbra.

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O ministro pediu desculpas LUSA/SÉRGIO AZENHA

Dez de Agosto de 1930. O comboio, que ainda na primeira metade do séc. XX era símbolo do progresso, chegava à estação de Serpins. A ideia era a linha prosseguir para Arganil e daí à Covilhã. Mas o caminho-de-ferro não passaria dali e Serpins quedou-se para sempre como a estação terminal do conhecido ramal da Lousã.

Onze de Setembro de 2020. Noventa anos depois, a velha estação é palco de uma cerimónia com direito à presença de um ministro da República. Pedro Nuno Santos, que tem a pasta das Infra-estruturas e Habitação, vem assinar o auto de consignação da empreitada do Metrobus do Mondego, entre Serpins e o Alto de S. João, em Coimbra. O objectivo é construir um sistema teleguiado de autocarros eléctricos que aproveite o canal ferroviário e possua elevada frequência e capacidade para satisfazer as necessidades da população da região.

Um projecto que tem 30 anos e que teve um inoportuno arranque há dez anos, que levou ao desmantelamento da via férrea sem que nada tivesse sido construído em sua substituição.

Por isso, a tónica do discurso do ministro foi nas justificadas razões que as populações têm para não acreditar nos políticos e não participarem na vida pública. E por isso Pedro Nuno Santos fez um pedido de desculpas em nome do Estado português pelas promessas não cumpridas do Sistema de Mobilidade do Mondego.

O governante disse que há três palavras – democracia, justiça e respeito – que espelham este momento histórico que assinala o início da obra. Democracia porque esta empreitada, apesar do atraso, é o cumprimento de uma promessa do poder político, e justiça porque é uma reparação feita à região que estava há dez anos suspensa deste projecto de mobilidade.

“Não acredito que esta obra demorasse dez anos a iniciar se fosse em Lisboa ou no Porto”, disse Pedro Nuno Santos, lamentando que os cidadãos portugueses do interior e do litoral não sejam habitualmente tratados da mesma maneira. 

Por fim, o respeito porque “o que estamos a fazer é a respeitar as pessoas e a região”, assumindo o começo da construção do Metrobus.

“Num processo de investimento as fases são tantas que dá sempre para fazer cerimónias públicas sem que a obra avance”, disse, numa eventual alusão ao seu antecessor, Pedro Marques, que se tornou conhecido por multiplicar este tipo de eventos no Ferrovia2020. Mas, explicou Pedro Nuno Santos, “um auto de consignação é o momento em que o Estado entrega ao empreiteiro a responsabilidade de fazer a obra” e portanto, a partir de agora, é o privado que deverá executá-la (num prazo de 15 meses). “Temos de estar em cima daquele senhor de gravata verde [responsável da Comsa] para ele cumprir os prazos”, disse.

23,8 milhões

A empreitada em causa, no valor de 23,8 milhões de euros, consiste na construção do troço suburbano do Sistema de Mobilidade do Mondego, com 30 quilómetros de extensão, entre Serpins e o Alto de S. João. Trata-se de preparar o canal ferroviário para que uma frota de 35 autocarros eléctricos (a bateria) ali circule através de um sistema teleguiado (o condutor não tem que ter as mãos no volante porque o guiamento é automático).

Para tal, vão ser intervencionadas 13 pontes e pontões e sete túneis ferroviários. As antigas estações do comboio mantêm-se como pontos de cruzamento (a linha continuará a ser de via única), sendo construídos mais quatro zonas específicas para cruzamento dos autocarros.

O sistema será gerido centralmente e os autocarros estarão dotados de sistemas de alerta anti-colisão. Tal como numa linha férrea, o canal estará vedado para impedir qualquer intrusão à circulação e, na cidade, haverá semaforização prioritária para estes veículos. A linha também terá “passagens de nível”: barreiras com controlo electrónico fechar-se-ão à passagem do tráfego rodoviário sempre que um Metrobus se aproximar. A velocidade máxima será 70 Km/hora.

O sistema é pioneiro em Portugal e tem detractores entre os defensores do caminho-de-ferro. Pedro Nuno Santos, que se confessou um “fervoroso adepto da ferrovia”, disse que esta é a solução que permite oferecer capacidade, frequência e ligações directas ao centro de Coimbra, mas adiantou que, “se o investimento se revelar um sucesso e a evolução do número de passageiros o justificar, não poremos de lado um investimento posterior numa solução ferroviária”.

António Laranjo, presidente da Infra-estruturas de Portugal, referiu que “este será o primeiro de uma nova onda de sistemas idênticos que estamos que estamos a preparar para outras regiões”. Questionado pelo PÚBLICO à margem do evento, o administrador disse que uma das zonas mais óbvias seria o eixo da A5, defendendo ali um corredor para autocarros teleguiados, admitindo que também alguns autarcas do Norte do país desejam um sistema idêntico para os seus municípios.

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