“Estou a sufocar.” Assassínio de advogado reacende protestos contra violência policial na Colômbia
Javier Ordóñez morreu depois de ter recebido dez choques eléctricos e de ter sido sufocado por dois polícias. Noite de protestos contra a violência policial causou pelo menos oito mortos e mais de 100 feridos.
Javier Ordóñez, um advogado de 44 anos, morreu na quarta-feira à noite depois de ter sido atacado com um taser e sufocado pela policia de Bogotá, na Colômbia, num incidente semelhante ao assassínio do afro-americano George Floyd, em Mineápolis, nos Estados Unidos, no passado mês de Maio.
As imagens do assassínio de Ordóñez foram divulgadas nas redes sociais e causaram indignação na Colômbia, relançando o debate sobre a violência policial no país e reacendendo os protestos, que ganharam projecção no final do ano passado, durante a contestação ao Presidente Iván Duque.
Las autoridades decidieron suspender a los uniformados que aparentemente incidieron en la muerte de Javier Ordoñez de 46 años. La alcaldesa de Bogotá, @ClaudiaLopez, ofreció apoyo a la familia de la víctima. https://t.co/pLkWEhBeFG pic.twitter.com/5Z70EsmbEr
— Revista Semana (@RevistaSemana) September 9, 2020
De acordo com a versão das autoridades, a polícia foi chamada após uma denúncia de uma rixa nas ruas de Bogotá, onde Ordóñez estaria na rua a beber bebidas alcoólicas com um grupo, o que é considerado ilegal devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19. Quando chegaram ao local, dois polícias abordaram Javier Ordóñez e atiraram-no ao chão, utilizando pelo menos dez choques eléctricos para o imobilizar.
Depois, pressionaram o advogado contra o chão, que gritou várias vezes que estava a sufocar e implorou para que os polícias parassem. “Estou a sufocar. Parem, por favor”, ouve-se no vídeo. Contudo, os dois agentes continuaram, mesmo após testemunhas no local dizerem que estavam a gravar. Cerca de dois minutos depois, chegaram outros dois agentes e Ordóñez foi levado para a esquadra, onde terá sofrido mais abusos. O advogado seria levado em estado crítico para o hospital, onde morreu.
No paro de pensar en Javier Ordoñez, su señora y sus dos hijos
— Rodrigo Lara (@Rodrigo_Lara_) September 10, 2020
Tenía mi edad. Desempleado, a pesar de 2 carreras. Sueños frustrados; manejaba taxi
Asesinado brutalmente en una calle,sin razón
Millones de colombianos se reflejan en su tragedia
Y se preguntan por qué protestan? pic.twitter.com/kSadpG2KZ5
Durante a noite desta quinta-feira, centenas de pessoas saíram às ruas de Bogotá. Os protestos começaram no local onde Ordóñez foi assassinado e depois estenderam-se a vários pontos da capital. Houve confrontos entre manifestantes e polícias, que resultaram na morte de pelo menos oito pessoas e mais de 150 ficaram feridas, incluindo 55 civis e perto de 100 polícias, segundo o balanço do Governo citado pela Reuters. Há ainda registo de 70 detenções.
Estaban indignados por la violencia policial y el exceso de la fuerza? Pues no se entiende por qué hacen lo mismo. Una decena en contra del primer uniformado que vieron en una calle en Bogotá. Reacción igual de violenta y reprochable. pic.twitter.com/QqwvPnFm77
— Claudia Gurisatti (@CGurisattiNTN24) September 10, 2020
Dezenas de esquadras da polícia foram incendiadas, bem como veículos das autoridades, com protestos que fizeram recordar a vaga de contestação em Novembro do ano passado após a morte de Dilan Cruz, de 18 anos, atacado com gás lacrimogéneo pela polícia, que se tornou um símbolo para os manifestantes. Há ainda registo de dezenas de carros particulares e motos queimadas.
A presidente da Câmara de Bogotá, Claudia López, do partido Aliança Verde, disse que vai oferecer assistência judicial aos familiares da vítima, condenou a “violência policial” e prometeu uma “reforma séria da polícia”. No entanto, reiterou que “destruir Bogotá não vai consertar a polícia”. “Vamos concentrar-nos em fazer justiça e fazer uma reforma estrutural para as forças de segurança”, apelou.
Hoy es un día que duele por donde se le mire. Mis condolencias a familiares y amigos de quienes murieron o están heridos. Destruir a Bogotá no arreglará la Policía. Destruirnos no arreglará nada. Concentrémonos en lograr justicia y reforma estructural a los cuerpos de seguridad. pic.twitter.com/Ge1ylvGR8p
— Claudia López ?? (@ClaudiaLopez) September 10, 2020
Já o ministro da Defesa colombiano, Carlos Holmes Trujillo, condenou “qualquer acto de um membro da polícia que viole a lei” e denunciou “actos de vandalismo em massa e violência”. Os dois agentes da polícia foram suspensos e as autoridades abriram uma investigação, uma ordem directa do Presidente Iván Duque, de acordo com o El Espectador.
Depois de várias horas de reunião, o Executivo anunciou um reforço do contingente policial na capital – 300 soldados do Exército colombiano e 850 polícias de outras regiões do país foram enviados para a capital. O Governo anunciou ainda uma recompensa financeira por informações “que levem à captura durante dos responsáveis pelo homicídio de cinco durante os protestos violentos em Bogotá e no município de Soacha, assim como pelos responsáveis por actos de vandalismo”.