Cientistas procuram 12 mil voluntários para realizar testes serológicos
Projecto coordenado pelo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) oferece testes gratuitos para conseguir amostra de todo o país e com participantes de todas as idades. A acção vai custar dois milhões de euros, financiados pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e pelo Grupo Jerónimo Martins.
O Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), com o financiamento da Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS) e do Grupo Jerónimo Martins (JM), vai coordenar a realização de um painel serológico para a covid-19 de cobertura nacional. O projecto, com um orçamento de dois milhões de euros, arranca nesta terça-feira e promete concretizar “a mais completa avaliação já realizada sobre a prevalência da infecção no país”. Para já, os investigadores procuram 12 mil voluntários, em todo o país e de todas as idades, para participar neste estudo que oferece testes serológicos gratuitos.
Os resultados obtidos com os testes serológicos a uma amostra de 12 mil cidadãos residentes em Portugal vão permitir determinar a proporção da população que desenvolveu anticorpos contra o SARS-CoV-2, estratificados por região e grupo etário. Em resposta ao PÚBLICO, os responsáveis pelo projecto adiantam que com este painel será possível obter uma estimativa da “imunidade populacional” actual em Portugal, após seis meses de pandemia e antes da existência de uma vacina. A partir desta amostra e dos dados que serão recolhidos no inquérito de saúde que é preenchido pelos participantes e que, entre outras questões, inclui perguntas sobre antecedentes clínicos e sintomas associados a esta infecção, os investigadores esperam ainda estimar a proporção de casos assintomáticos e “identificar potenciais factores epidemiológicos e factores de risco associados à covid-19”. Além destas informações, a equipa de cientistas, coordenada pelo vice-director e investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, Bruno Silva-Santos, pretende ainda realizar “um estudo de follow-up a um subgrupo dos 12.000 participantes para monitorização da sua resposta imunitária ao longo do tempo, num período total de um ano”.
O estudo decorre entre 8 de Setembro e 7 de Outubro de 2020, em 102 municípios de Portugal continental e ilhas, estando disponíveis 314 postos de colheita do Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa, empresa parceira neste projecto. O comunicado de imprensa sobre a acção nota ainda que “a definição e caracterização da amostra para o painel serológico contou com o contributo de especialistas da Pordata e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa” e adianta que “os dados serão analisados estatisticamente e os resultados finais divulgados a partir do final de Outubro”. Os voluntários poderão inscrever-se através do registo num site, onde encontram toda a informação relevante (www.painelcovid19.pt). Devido ao elevado número de inscrições, o site teve alguns problemas técnicos durante o início manhã desta terça-feira, mas os responsáveis pelo projecto esperam conseguir resolver estas questões até ao final da manhã.
Os resultados do primeiro inquérito serológico nacional foram divulgados no último dia do mês de Julho. Esse primeiro trabalho foi coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e revelou que 2,9% das 2301 pessoas envolvidas neste estudo observacional possuíam anticorpos para o novo coronavírus SARS-CoV-2, não tendo sido encontradas diferenças significativas entre regiões e grupos etários. A investigação indicou ainda que 44% das pessoas que tiveram contacto com este vírus serão casos assintomáticos.
No início de Junho foi também anunciada uma iniciativa para realizar um roteiro serológico nacional, que envolve 20 cientistas portugueses, num grupo coordenado por investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras. Na altura, o grupo anunciou que, numa primeira fase, o trabalho ia começar com uma população-sentinela de cinco mil pessoas testadas a anticorpos contra o vírus da covid-19 e, numa última fase, chegaria às 25 mil a 30 mil. Além do número de pessoas expostas ao vírus, o estudo longitudinal nas cinco mil pessoas quer igualmente perceber se, quem já tinha anticorpos para o novo coronavírus, os mantém ao longo do tempo ou se eles desaparecerem.
Agora, este novo projecto propõe estudar um amostra de 12 mil pessoas e, segundo os seus dinamizadores, pretende oferecer “a mais completa avaliação já realizada sobre a prevalência da infecção no país”. Seis meses após o início da pandemia, argumentam os especialistas, “é agora crítico conhecer o retrato da covid-19 que permitirá ajudar o país a equilibrar os esforços necessários à retoma social e económica com a protecção da vida”. “O Ministério da Saúde e o próprio gabinete do primeiro-ministro têm vindo a acompanhar este projecto, sendo que a gestão dos resultados será ainda articulada com outras instituições nacionais responsáveis pela saúde, como o Instituto Nacional de Saúde Pública (INSA), e a Entidade Reguladora da Saúde”, acrescentam ainda os responsáveis pelo painel.
Citada no comunicado, Maria Manuel Mota, directora executiva do iMM, sublinha a importância deste investimento “para viabilizar o reforço das actividades covid-19 do iMM e projectá-las no futuro, quer através da monitorização do estado serológico, quer na investigação clínica que permitirá compreender melhor a doença, por exemplo, o que distingue biologicamente indivíduos assintomáticos dos casos ligeiros e dos mais graves”.
(Notícia actualizada com a informação de problemas técnicos que estão a impossibilitar as inscrições)