Histórias do Tour: Kämna e a paragem abençoada
Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre os ciclistas em prova.
Não é habitual ver um atleta de alta competição, já com lugar entre os melhores do seu ramo, fazer uma paragem na carreira “apenas” para pensar na vida. Salutar, sim. Habitual, não.
O cenário torna-se ainda mais incomum se considerarmos que o atleta em causa tem 21 anos e está na flor da idade, num desporto cuja carreira nem sempre permite uma grande longevidade.
Mas Lennard Kämna fê-lo. Em 2018, apenas um ano depois de se tornar profissional, este “pensador”, já com contrato com a Sunweb, obrigou a equipa a fazer um comunicado dizendo que Kämna iria fazer uma pausa na carreira “para rever a sua situação como atleta e reflectir sobre os objectivos de carreira a longo prazo”.
O campeão mundial de contra-relógio em juniores teve, em 2018, um início de temporada frustrante. Ficou fora do top-50 na Volta ao Algarve e não fez melhor no trio de provas italianas: Strade Bianche, Tirreno Adriático e Milão-São Remo. E foi então que decidiu parar durante alguns meses.
Após a reflexão, Kämna voltou mais capaz e, em 2019, o jovem alemão deu nas vistas na Volta a França. Foi sexto na etapa 15 e quarto na etapa 18, ambas tiradas de montanha nas quais conseguiu chegar junto de alguns dos principais trepadores.
E foi em grande parte este desempenho que lhe valeu a ida para a equipa Bora, pela qual já conseguiu, em 2020, top-10 na Volta ao Algarve (7.º lugar), antes da pandemia, e, mais recentemente, no Dauphiné (8.º lugar).
Ainda jovem, Lennard Kämna não estava a conseguir ser, no ciclismo profissional, aquilo que o tornou campeão do mundo de contra-relógio. E parou para pensar. Agora, é um contra-relogista que já mostrou passar bem as montanhas. E este é um “combo” muito caro ao ciclismo actual e que pode valer-lhe estrelato nos próximos anos.