Advogado diz que Doyen lhe ofereceu um milhão para denunciar Rui Pinto

Episódio ter-se-á passado numa reunião secreta entre Aníbal Pinto e administrador da Doyen vigiada pela Judiciária, numa estação de serviço da A5.

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Aníbal Pinto, esta manhã no Campus de Justiça, em Lisboa LUSA/MARIO CRUZ

O ex-advogado do pirata informático Rui Pinto, que tal como o seu antigo cliente também responde em tribunal por tentativa de extorsão do fundo de investimento Doyen, revelou esta sexta-feira em tribunal que esta entidade ligada aos passes de jogadores de futebol lhe ofereceu um milhão de euros para denunciar o hacker.

Não é a primeira vez que o advogado Aníbal Pinto revela este episódio perante a justiça, mas nunca o tinha feito de viva voz perante juízes, até porque o julgamento em que é arguido só começou esta manhã. De acordo com o seu relato, tudo se terá passado numa estação de serviço da A5, em Oeiras, local onde se encontrou com dois representantes da Doyen em finais de 2015. Na sua versão dos factos a reunião serviria para combinar cara a cara as condições em que Rui Pinto passaria a trabalhar como especialista informático para o fundo de investimento, por 1800 euros mensais.

Mas segundo o Ministério Público o que pretendia na realidade era ajudar o pirata informático a chantagear a Doyen, entidade à qual terá exigido entre meio milhão e um milhão de euros para parar de publicar no site Football Leaks informação relacionada com os negócios associados às transferências de vários jogadores.

Foi na estação de serviço, assegurou Aníbal Pinto, que Nélio Lucas, então administrador da Doyen, aproveitou os cinco minutos que durou uma ida ao WC do advogado Pedro Henriques, também da Doyen, para lhe fazer uma proposta irrecusável. “Disse-me: ’Somos muito ricos e vamos oferecer-lhe um milhão de euros’. E eu respondi-lhe: ‘Mas estás a falar com quem, pá?! Não tens dinheiro para me pagar’”. Nessa altura Rui Pinto ainda mantinha anónima a sua identidade como fundador do Football Leaks. Num email que enviara à Doyen usara o pseudónimo de Artem Lobuzov.

Sucede que o encontro estava a ser vigiado por inspectores da Polícia Judiciária. Que, segundo este arguido, nunca transcreveram para o processo esta parte da conversa. “Estou curioso para perguntar aos inspectores porquê”, disse em tribunal Aníbal Pinto.

Pouco tempo depois desta misteriosa reunião a Doyen acabaria por entregar na Polícia Judiciária uma queixa-crime que levaria à detenção de Rui Pinto em Budapeste, cidade onde morava.

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