Jerónimo aponta mira à direita que quer o PCP “quieto, confinado, calado e com temor”
Secretário-geral insurgiu-se contra o “arsenal mediático” que foi usado para impedir a Festa do Avante! e diz que o objectivo era “pôr em causa direitos políticos constitucionais”.
Foi com um forte ataque à direita que o secretário-geral do PCP inaugurou oficialmente esta sexta-feira a 44.ª edição da Festa do Avante!. Num vídeo de cinco minutos, Jerónimo de Sousa deixou avisos e declarou que o “PCP vai estar onde sempre esteve e que será uma voz e força combatente”.
“Sim, querem-nos quietos, confinados, calados e com temor porque sabem o que vem aí. Querem que abdiquemos do que a vida tem de mais belo e realizador”. E deu exemplos: “Reencontrar o convívio, as amizades, a cultura, os concertos de diversos estilos de música, descobrir as levadas da Madeira, ouvir o cante do Alentejo e o fado, a apresentação de um livro, assistir à peça de teatro ou ao momento do cinema, participar num dos debates que vão preencher 60 horas nos três dias da Festa, dar sentido e expressão concreta à solidariedade internacionalista, à luta pela paz.”
Sem nunca apontar nomes, disse que “figuras destacadas da direita, ex-governantes bem conhecidos, como se tivessem tido um rebate de consciência pelo mal que fizeram ao direito à saúde dos portugueses e ao Serviço Nacional de Saúde, à rede pública de saúde com a desvalorização de serviços, encerramento de milhares de camas, redução do número de profissionais, que castigaram também nos seus salários, nos seus horários, nas suas carreiras vêm à praça pública invocar hipocritamente razões sanitárias para impedir a Festa”.
Num discurso em que temas relativos à actualidade política ficaram de fora, Jerónimo de Sousa insurgiu-se contra o “autêntico arsenal mediático” que foi usado para impedir a realização da festa dos comunistas, “aproveitando as preocupações legítimas em relação ao surto epidémico, o que realmente pretendiam e pretendem é pôr em causa direitos políticos constitucionais”.
“Não querem que haja Festa como não queriam as celebrações do 25 de Abril, nem a jornada de luta do 1.º de Maio. Não queriam, nem querem, a Festa porque estão conscientes do agravamento da situação económica e social em que os sectores do capital se vão aproveitar para despedir, cortar salários e direitos, aumentar as injustiças e desigualdades e ficar com a parte de leão dos apoios financeiros”, denunciou o líder comunista.
Segundo Jerónimo, “além da Festa” também não querem que os trabalhadores se mobilizem e lutem e muito menos que o PCP seja voz e força combatente, dê ânimo e confiança a todos que estão preocupados com as suas vidas”.
“Não querem o partido portador de uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que não abdica de nenhum espaço para propor nomeadamente medidas de valorização do trabalho e dos trabalhadores, em particular a valorização dos salário e o aumento do Salário Mínimo Nacional e o combate à precariedade, medidas que tenham em conta a valorização das reformas e pensões de protecção social, que apontem no reforço dos serviços públicos, em particular da saúde e da Segurança Social, que aposte, como designo nacional, em pôr o país a produzir aquilo que nos obrigam a comprar lá fora, valorizando o mercado interno e a actividade dos criadores da arte e da cultura, das micro e pequenas e médias empresas, e os produtores e agricultores”, continuou.
Dirigindo-se aos camaradas presentes na Quinta da Atalaia, Seixal, o secretário-geral do PCP apelou a que as medidas de protecção sanitária sejam cumpridas. “Usemos a máscara, de acordo com o recomendado. Mas não deixemos que nos tapem os olhos em relação à necessidade de continuar a estar e a lutar onde sempre estivemos - com os trabalhadores, com o povo português, sejam quais foram as circunstâncias, luta inseparável do exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais”, afirmou.
A concluir, pediu os participantes para que façam da Festa do Avante! um “espaço de alegria, tranquilidade com energias redobradas para fazer boa cara ao mau tempo”.