Fotografia
Entre a melancolia e a solidão: João Cabral fotografa o Porto como quem o pinta
As fotografias de rua de João Cabral são como pinturas. Os enquadramentos estudados, o equilíbrio delicado entre luz e sombra, o posicionamento estratégico do elemento humano não deixam margem para dúvidas. "Quando comecei a fotografar, estudava no último ano do curso de Pintura, na Faculdade de Belas Artes do Porto", esclarece o fotógrafo portuense, em entrevista ao P3.
Interessou-se, primeiro, pela fotografia de paisagem, mas cedo se apaixonou pelo trabalho dos clássicos Cartier-Bresson, Willy Ronis, Doisneau, Izis, que o transportaram, de câmara em riste, até às ruas do Porto, de Lisboa e de outras cidades portuguesas e de além-fronteiras. "Mas é o Porto a cidade que mais gosto de fotografar", ressalva. "A atmosfera que procuro é claramente melancólica." A nostalgia e o mistério são também elementos presentes nas fotografias que mostra, há três anos, aos transeuntes, na Rua das Flores, no Porto.
Antes de sair para a rua, João Cabral idealiza as imagens que gostaria de obter. "Os locais, a luz, as pessoas que passam, o enquadramento" são pensados, desejados, mas a ideia inicial tropeça frequentemente na realidade e na condição dos locais. "Tenho sempre de improvisar com o que tenho no momento", explica. "Porque a imagem que se idealiza nunca corresponde a realidade."
Saber ler a luz, organizar o espaço, usar linhas de força, ter primeiros planos fortes são requisitos importantes para compor uma boa imagem, na opinião do artista de 30 anos. "Por vezes, basta uma luz específica para obter uma grande imagem", refere. Não há fórmulas. "Com as minhas imagens pretendo mostrar a minha visão e memórias da cidade. Tento representar também alguma da solidão, aquela que os indivíduos da sociedade moderna sentem na cidade."