O dever de hesitar
O risco é que as palavras percam o seu significado. O risco é que o centro moderado passe a ser um enorme espaço vazio. Olhemos para a América e como foi possível chegar a Trump. Entretanto, indignemo-nos com moderação
1.Pressionado a definir a “civilização europeia”, Albert Camus, um pouco incomodado com a insistência do público, respondeu: “Gostaria, primeiro, de falar da minha incapacidade de dizer coisas definitivas sobre o assunto”. O grande escritor francês estava em Atenas para participar numa conferência sobre o futuro da civilização europeia. Corria o ano de 1955. Tinha 42 anos. Passara a manhã a passear pela Acrópole. O episódio é recordado num magnífico texto do Monde dedicado a uma das características fundamentais do seu pensamento – “o dever de hesitar”. A definição é do próprio escritor. Num tempo de grandes e apaixonados debates intelectuais em que hesitar era um pecado e as linhas de batalha eram intransponíveis. Acabou por responder à questão insistente do público. O que mantém a Europa de pé, o que lhe confere a sua força frágil, será um certo sentido do equilíbrio. “A civilização europeia é, em primeiro lugar, uma civilização pluralista” onde a multiplicidade de opiniões deve tornar impossível o domínio de uma verdade única.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.