Procurador do Wisconsin revela nome do agente que baleou Jacob Blake
Rusten Sheskey entrou para a polícia há sete anos e foi suspenso até ao fim das investigações. Procurador-geral disse que foi encontrada uma faca na carrinha de Blake, que os advogados sublinham que nunca foi usada no incidente.
O procurador-geral do estado norte-americano do Wisconsin revelou o nome do polícia que baleou por sete vezes o cidadão negro Jacob Blake, à queima-roupa e pelas costas, num caso que deu origem a violentos protestos na cidade de Kenosha, que já fizeram dois mortos. Numa conferência de imprensa, o responsável disse que foi encontrada uma faca na carrinha de Blake, mas os advogados salientam que o seu cliente nunca ameaçou nem representou qualquer perigo para a polícia.
Na primeira vez que foram avançados pormenores sobre o caso, o procurador-geral do Wisconsin, Josh Kaul, disse que a faca encontrada na carrinha de Blake estava pousada entre os pedais e o banco do condutor, do lado em que Blake tentou entrar quando foi baleado sete vezes pelas costas.
Não foram avançados pormenores sobre a faca em causa, nem o procurador disse se foi usada por Blake durante o incidente. Os advogados de Blake puseram em causa a sugestão de que a faca pode ser relevante para o caso, sublinhando que o seu cliente não estava na posse de qualquer arma, nem representou nunca qualquer ameaça à polícia.
Na conferência de imprensa do procurador-geral, o agente que disparou sete vezes contra Jacob Blake foi identificado como Rusten Sheskey, que está na polícia do Wisconsin há sete anos.
Atirador detido
Antes das declarações de Josh Kaul, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que abriu uma investigação sobre possíveis violações dos direitos civis de Blake, que vai ser conduzida pelo FBI em colaboração com as autoridades do Wisconsin.
Horas antes, na noite de quarta-feira, a polícia deteve um adolescente de 17 anos que foi acusado de disparar contra três pessoas nos protestos em Kenosha, matando duas delas.
Vídeos partilhados nas redes sociais mostram um atirador branco, armado com uma espingarda semi-automática, a disparar contra os manifestantes que tentavam dominá-lo, e depois a afastar-se calmamente da cena, com as mãos no ar, enquanto vários carros da polícia passavam sem parar.
O vice-governador do Wisconsin, Mandela Barnes, disse ao canal MSNBC que o suspeito – mais tarde identificado como Kyle Rittenhouse, de 17 anos, e morador no estado vizinho do Illinois – faz parte de uma milícia e “decidiu ser vigilante para atacar manifestantes inocentes”.
Preparando-se para a quarta noite consecutiva de protestos, o governador do Wisconsin, Tony Evers, disse que duplicou o número de tropas da Guarda Nacional para 500, e antecipou o início do recolher obrigatório em uma hora, para as 19h.
Cerca de 200 manifestantes desafiaram o recolher obrigatório durante a noite de quarta-feira, gritando palavras de ordem pelas ruas da cidade, perante uma atitude relativamente passiva da polícia. Ao contrário do que aconteceu na noite de terça-feira, não foram avistadas milícias armadas na zona dos protestos.
Namorada chamou a polícia
De acordo com a versão do procurador-geral sobre o que aconteceu nos momentos antes de o agente Rusten Shaskey ter disparado contra Jacob Blake, a polícia chegou ao local depois de uma denúncia de uma mulher, que disse que o seu namorado estava presente “e que não era suposto estar neste local”.
A morada que o procurador-geral avançou corresponde com a morada da mulher que foi identificada nos media como Laquisha Booker, noiva de Jacob Blake.
Durante o incidente, segundo Josh Kaul, a polícia tentou deter Blake usando uma arma Taser, sem sucesso. Ainda segundo o mesmo responsável, Blake dirigiu-se então para o seu veículo, abriu a porta do lado do condutor e inclinou-se para a frente – e foi nesse momento que o agente Sheskey disparou sete vezes contra Blake, pelas costas e à queima-roupa.
O mesmo responsável disse que nenhum outro agente disparou mas todos os que estavam no local foram suspensos até ao final das investigações.
Um dos advogados da família de Blake, Ben Crump, respondeu às declarações do procurador-geral do Wisconsin dizendo que Jacob Blake “não fez nada para provocar a polícia” e “estava apenas a tentar tirar os seus filhos de uma situação volátil”.
“Testemunhas confirmam que ele não estava na posse de uma faca e que não ameaçou os agentes em nenhum momento”, disse o advogado.
Três dos seis filhos de Blake – de três, cinco e oito anos – estavam no banco de trás do veículo e viram o seu pai ser atingido, disse Crump.
Nem o advogado da família, nem as autoridades policiais do Wisconsin, fizeram referência a registos judiciais que mostram uma ordem de detenção emitida contra Blake, em Julho, pelo procurador distrital de Kenosha, por acusações relacionadas com violência doméstica.
O advogado não quis responder às perguntas da agência Reuters sobre aqueles registos, cuja morada é a mesma onde Jacob Blake tem a sua residência.
De acordo com Ben Crump, Blake foi atingido por quatro dos sete tiros disparados pelo agente Sheskey. As balas estilhaçaram algumas das suas vértebras e deixaram-no paralisado da cintura para baixo, possivelmente para sempre, segundo os seus advogados. Blake também sofreu ferimentos no estômago, intestino, rins e fígado, e vai precisar de ser operado várias vezes.
O gabinete do procurador-geral do Wisconsin disse que o seu relatório deverá ficar concluído nos próximos 30 dias.