No auge dos protestos no Wisconsin, Mike Pence reforça o discurso da “lei e ordem”

Vice-presidente dos Estados Unidos foi o principal destaque da terceira noite da convenção do Partido Republicano. “A escolha nestas eleições é sobre se a América continua a ser a América”, disse Pence.

Pence definiu as eleições como uma escolha entre a ordem e a anarquia
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Pence definiu as eleições como uma escolha entre a ordem e a anarquia LUSA/KEVIN DIETSCH / POOL
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Donald Trump e Melania Trump LUSA/KEVIN DIETSCH / POOL
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Trump e Pence cumprimentaram a assistência Reuters/JONATHAN ERNST

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, definiu as próximas eleições presidenciais, a 3 de Novembro, como uma luta entre a preservação da segurança e da viabilidade económica do país, e a entrada num caminho de socialismo e declínio se o vencedor for Joe Biden, do Partido Democrata.

No auge dos protestos na cidade de Kanesha, no estado do Wisconsin, depois de um polícia ter baleado por sete vezes, pelas costas e à queima-roupa, o cidadão negro Jacob Blake, Mike Pence surgiu na convenção republicana a apresentar as eleições de Novembro como uma escolha entre “a lei e a ordem” e a anarquia.

“A dura realidade é que você não estará seguro na América de Joe Biden”, disse Pence à assistência no Forte McHenry, em Baltimore, no estado do Maryland.

No final do discurso, o Presidente norte-americano, Donald Trump, e a primeira-dama, Melania Trump, juntaram-se a Mike Pence enquanto a assistência pedia “Mais quatro anos”.

Os protestos anti-racismo e contra a violência policial que acontecem um pouco por todo o país desde finais de Maio, na sequência da morte de George Floyd, em Mineápolis, tiveram nos últimos dias um novo ponto alto depois do caso de Jacob Blake.

Na terceira noite de protestos e distúrbios no Wisconsin, na quarta-feira, duas pessoas morreram e uma ficou ferida com gravidade. O vice-governador do estado disse que o adolescente detido por suspeita de homicídio é, aparentemente, membro de uma milícia e queria matar manifestantes.

Antes do discurso de Mike Pence, o Presidente norte-americano disse que está pronto para enviar agentes federais para o Wisconsin, se o governador do estado assim o entender.

“Vou ser claro: a violência tem de acabar. Seja em Mineápolis, em Portland ou em Kenosha”, disse Pence, que não referiu o nome de Jacob Blake. “Teremos lei e ordem nas ruas deste país, para cada americano de qualquer raça, religião ou cor.”

Reuters,Vera Moutinho

O candidato do Partido Democrata, Joe Biden, disse que falou com a família de Blake na quarta-feira. E, tal como o pai e a mãe de Blake, também pediu o fim da violência. Mas, ao contrário de Trump, que ainda não comentou publicamente a acção da polícia de Kenosha, Biden pediu justiça e defendeu o direito aos protestos.

“Protestar contra a brutalidade é um direito e é absolutamente necessário, mas atear fogo a comunidades não é protestar. É violência desnecessária”, disse Biden num vídeo partilhado pela sua campanha eleitoral.

No seu discurso na convenção do Partido Republicano, Mike Pence repetiu a acusação de que Biden apoia os apelos ao fim do financiamento das forças policiais – um pedido de alguns sectores liberais que o candidato do Partido Democrata já disse que não apoia. Em vez disso, Biden prometeu investir 300 milhões de dólares para a contratação de agentes de diferentes origens e para desenvolver melhores relações entre a polícia e as comunidades.

Pandemia e sondagens

Trump intensificou o seu tema de campanha sobre “lei e ordem” à medida que as sondagens indicavam que os eleitores estavam a reprovar a gestão que tem feito da pandemia de covid-19, que já matou quase 180.000 norte-americanos.

Na convenção desta semana, os convidados republicanos têm tentado reverter a queda do Presidente norte-americano junto do eleitorado feminino, dos afro-americanos e dos imigrantes.

Na quarta-feira, vários convidados salientaram o apoio às mulheres – parte de um esforço mais abrangente para retratar Trump como uma pessoa solidária com colegas, família e até estranhos, um quadro muitas vezes contrariado pelas suas palavras e acções.

Uma das principais conselheiras do Presidente norte-americano, Kellyanne Conway, que anunciou a sua saída da Casa Branca até ao fim do mês por razões familiares, sublinhou que Trump lhe deu um papel influente na campanha de 2016 e na Administração.

“Uma mulher num papel de liderança ainda pode ser vista como uma novidade. Mas não é uma novidade para o Presidente Trump. Ao longo de décadas, ele tem promovido mulheres para posições de destaque nas empresas, e agora no Governo. Ele confia em nós e ouve-nos, respeita as nossas opiniões e insiste que estamos em igualdade perante os homens”, disse Conway.

O discurso de Mike Pence foi lido no Monumento Nacional do Forte McHenry, em Baltimore – uma estrutura federal que assinala o local da batalha da guerra de 1812 que inspirou Francis Scott Key a escrever o hino nacional dos Estados Unidos, “The Star-Spangled Banner”.

Antigo governador e congressista do Indiana e cristão conservador, Pence tem funcionado como uma ligação fundamental entre Trump e os eleitores evangélicos, que são uma parte essencial da base política do Partido Republicano.

O vice-presidente dos Estados Unidos tentou reformular a narrativa sobre a economia, dizendo que os milhões de postos de trabalho perdidos durante a pandemia são um contratempo que será ultrapassado rapidamente. Apesar de seguir atrás de Biden nas sondagens, Trump recebe notas mais altas do que o candidato do Partido Democrata no capítulo da economia.

“Na semana passada, Joe Biden disse que não vai acontecer nenhum milagre. O que o Joe parece não entender é que a América é uma nação de milagres, e estamos a caminho de termos a primeira vacina segura e eficaz contra o coronavírus, até ao fim do ano”, disse Mike Pence.

Trump e outros membros da Casa Branca têm dito que a vacina estará pronta até ao fim do ano, mas alguns especialistas duvidam que a fase de testes fique concluída nos próximos tempos.

"Futuro da América"

Na convença do Partido Democrata, na semana passada, Joe Biden e a candidata a vice-presidente, Kamala Harris, disseram que um novo mandato de Donald Trump na Casa Branca seria uma ameaça à democracia.

Na noite de quarta-feira, Mike Pence apresentou um argumento semelhante em relação a Joe Biden e ao Partido Democrata.

Pence acusou Biden – um antigo vice-presidente na Administração Obama e um centrista moderado que derrotou vários adversários progressistas nas eleições primárias – de servir apenas como uma fachada para a esquerda radical.

“Na semana passada, Joe Biden disse que a democracia vai a votos, e a verdade é que a nossa recuperação económica também vai a votos, tal como a lei e a ordem”, disse Mike Pence.

“Mas há outras coisas ainda mais importantes para as fundações do nosso país que vão a votos: a escolha nestas eleições é sobre se a América continua a ser a América.”