A 10 de Outubro, Melanie Wolfson pagou uma taxa extra para escolher o seu lugar, que queria ao lado do corredor, num voo da easyjet de Telavive para Londres. Quando chegou à sua fila de assentos, um homem, judeu ultra-ortodoxo, e o seu filho já estavam sentados. O rapaz saltou de imediato do banco para a fila de trás, presumivelmente, esclarece o jornal israelita Haaretz, que conta o caso, para evitar contacto físico com a passageira. Voltou depois e foi-lhe feita a proposta que trocasse de lugar com um passageiro masculino.”Insultada e humilhada”, diz Wolfson, acabaria por aceitar e trocar de lugar.
“Foi a primeira vez na minha vida adulta que fui discriminada por ser mulher”, diz Wolfson ao Haaretz, referindo que “não teria qualquer problema” em mudar de lugar se fosse para ajudar amigos ou familiares a viajarem juntos. “Mas pedirem-me para fazer isto porque sou uma mulher levou-me a recusar”, comenta, embora depois, “para não atrasar o voo”, se tenha resignado.
Acabaria por reclamar junto da companhia porque, durante o voo, os assistentes de bordo não a defenderam e confirmaram-lhe que era prática corrente pedir às mulheres que trocassem de lugares para que os judeus ultra-ortodoxos pudessem viajar confortavelmente e respeitando as suas regras de não se sentarem ao lado de mulheres que não sejam da família.
Sem receber resposta, voltaria a realizar o mesmo voo. E voltou a acontecer a mesma coisa, tendo sido convidada a mudar de lugar para não incomodar os passageiros ultra-ortodoxos. Não aceitou, mas foi encontrada outra solução: duas mulheres trocaram de lugar com os homens.
A passageira voltou a reclamar junto da companhia, mas, sem receber resposta, cansou-se e decidiu avançar com um processo, já que, acusa, não só os assistentes de bordo ajudam a que tal ocorra, como não intervêm nem tentam defender os direitos das passageiras.
Segundo o jornal, o processo, que corre em Israel e foi avançado pelo Centro de Acção Religiosa de Israel (Israel Religious Action Center, IRAC) – uma organização dedicada a defender o pluralismo e a combater a discriminação –, recorre a uma lei que entrou em vigor no país no ano de 2000 onde se proíbe a discriminação contra clientes, incluindo com base na raça, religião, nacionalidade, origem, género, orientação sexual ou opções políticas.
E lembra que já em 2017, uma passageira na mesma situação, também num processo conduzido pelo IRAC (que há anos que luta pelo fim destes casos, como conta o New York Times), venceu um processo em tribunal, tendo recebido uma compensação monetária simbólica (cerca de 1620 euros), mas a vitória maior foi a ordem judicial à companhia em questão, a israelita El Al, para que deixasse de pedir a passageiros que mudassem de lugar em casos similares.
Melanie Wolfson, de 38 anos, de origem britânica e que vive em Israel há 13 anos, pede uma compensação menos simbólica, a máxima que é permitida pela lei no caso, cerca de 66 mil shekels, cerca de 16.640 euros. E, acima de tudo, que a easyJet seja obrigada a mudar as suas políticas face a tais discriminações e a dar formação aos seus assistentes nesse sentido, tal como ocorreu com a El Al.
A easyJet não comentou expressamente o caso, adiantando o britânico jornal The Guardian que apenas enviou uma nota onde indica “levar reclamações deste género muito a sério": “Embora seja inapropriado comentar, visto que este caso está actualmente sujeito a procedimentos judiciais, não fazemos qualquer tipo de discriminação”.