Jacob Blake, o americano negro baleado pelas costas por um polícia, “precisa de um milagre para voltar a andar”

Terceira noite de protestos em Kenosha, no estado norte-americano do Wisconsin, ficou marcada pela morte de duas pessoas num tiroteio. Família de Blake apela ao fim dos distúrbios e das pilhagens.

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Letetria e Zanetia Blake, irmãs de Jacob, abraçam-se durante a conferência de imprensa da família Reuters/STEPHEN MATUREN

Jacob Blake, o norte-americano negro que foi baleado por sete vezes por um polícia, pelas costas e à queima-roupa, no domingo, está paralisado da cintura para baixo e “a lutar pela vida”. Blake precisa de um milagre para voltar a andar”, disseram os advogados da família.

A conferência de imprensa dos advogados e da família de Jacob Blake, de 29 anos, decorreu na noite de terça-feira, quando a cidade de Kenosha, no estado do Wisconsin, se preparava para a terceira noite de protestos contra a violência policial e anti-racismo.

O governador do Wisconsin, Tony Evers, declarou o estado de emergência e disse que vai mobilizar a Guarda Nacional para repor a ordem na cidade, ao mesmo tempo que a mãe de Jacob Blake apelou à calma.

Blake, pai de seis filhos, foi baleado à queima-roupa e pelas costas por um polícia que o seguiu, de arma apontada, até ao momento em que tentou entrar numa carrinha.

Três dos seus filhos – de três, cinco e oito anos – estavam no banco de trás da carrinha e viram o seu pai a ser baleado, segundo o advogado Ben Crump, que está a representar a família.

O momento foi captado em vídeo e tornou-se viral, libertando a indignação com o mais recente caso de uso indiscriminado da força pela polícia contra cidadãos negros.

Blake tinha acabado de tentar separar uma briga entre duas mulheres quando foi atingido e “não havia nenhuma indicação de que estivesse armado”, disse Ben Crump numa entrevista ao canal ABC News, na terça-feira.

Até ao momento, a polícia ainda não explicou a razão de Jacob Blake ter sido baleado.

Numa conferência de imprensa, ao fim do dia, os pais de Blake manifestaram a sua dor e apelaram ao fim dos casos de pilhagens, vandalismo e fogo posto que têm pontuado dias de protestos geralmente pacíficos.

“O meu filho é importante”

“Eles atingiram o meu filho por sete vezes. Sete vezes! Como se ele não fosse importante”, disse o pai, Jacob Blake Sr., com a voz marcada pela emoção. “Ele é um ser humano e a vida dele é importante.”

Julia Jackson, a mãe de Jacob Blake, disse que o seu filho “está a lutar pela vida”, mas ainda assim apelou à união e disse que tem rezado pelos agentes da polícia. E também se mostrou desiludida com as pessoas que provocaram distúrbios em Kenosha, uma cidade de 100.000 habitantes.

“Se o Jacob soubesse desta violência e destruição, ficaria muito desagradado”, disse Julia Jackson.

Ben Crump e outro advogado da família, Patrick Salvi, disseram que as balas estilhaçaram algumas vértebras de Blake deixando-o paralisado da cintura para baixo – possivelmente de forma permanente.

Jacob Blake tem também ferimentos no estômago e no tracto intestinal – o que obrigou os médicos a retirarem-lhe grande parte do cólon e do intestino delgado –, nos rins, fígado e num dos braços.

“Vai ser preciso um milagre para que Jacob Blake Jr. volte a andar”, disse Crump, acrescentando que a família tem a intenção de levar o caso a tribunal. O advogado disse ainda que os três filhos de Blake que estavam na carrinha “podem sofrer problemas psicológicos para o resto das suas vidas”.

O caso está a ser investigado pelo Departamento de Justiça do Wisconsin, que ainda não divulgou quaisquer pormenores. E aconteceu três meses depois da morte de George Floyd, sufocado por um polícia branco em Mineápolis, no Minnesota, que motivou uma onda de protestos contra a violência policial e anti-racismo em todo o país.

Dois mortos em tiroteio

Na noite de terça-feira, duas pessoas morreram e uma ficou ferida com gravidade após disparos nas ruas de Kenosha, no meio dos protestos contra a actuação policial, segundo o New York Times. O jornal diz que os tiros foram disparados por um grupo de homens armados, civis, que defendiam uma estação de serviço durante os protestos.

Kenosha, Wisconsin EPA/TANNEN MAURY
Kenosha, Wisconsin Reuters/BRENDAN MCDERMID
Kenosha, Wisconsin Reuters/STEPHEN MATUREN
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Kenosha, Wisconsin Reuters/STEPHEN MATUREN
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Los Angeles EPA/CHRISTIAN MONTERROSA
Los Angeles EPA/CHRISTIAN MONTERROSA
Kenosha, Wisconsin Reuters/BRENDAN GUTENSCHWAGER
Kenosha, Wisconsin Reuters/BRENDAN MCDERMID
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Kenosha, Wisconsin EPA/TANNEN MAURY
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Kenosha, Wisconsin EPA/TANNEN MAURY

A polícia e os manifestantes envolveram-se em confrontos na noite de terça-feira e na madrugada desta quarta-feira. Agentes da polícia de intervenção dispararam balas de borracha e lançaram gás lacrimogéneo contra os manifestantes, que desafiaram o recolher obrigatório.

A noite tornou-se mais violenta ao início da madrugada, com o tiroteio que viria a fazer duas vítimas mortais. Antes disso, segundo os jornais norte-americanos, não se repetiram as cenas de fogo posto em estabelecimentos comerciais que marcaram os protestos nas noites de domingo e segunda-feira.