Governo francês apoia sector cultural com “dotação excepcional” de dois mil milhões de euros
“É uma opção política, sem precedentes. Significa que, antes de mais, pensamos na Cultura como uma actividade económica, e isto deve ser dito alto e bom som”, afirmou o primeiro-ministro Jean Castex. Salas de espectáculos e de cinema serão compensadas pelas perdas decorrentes do cumprimento das regras sanitárias para conter a pandemia.
Dois mil milhões de euros. É este o valor da “dotação excepcional” que o governo francês injectará no sector cultural para fazer frente à crise causada pela pandemia da covid-19. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro Jean Castex numa entrevista à France Inter, parte do serviço público de rádio francês, na manhã desta quarta-feira. “Se há uma especificidade francesa, é que viver com o vírus é, também, cultivarmo-nos com o vírus”, cita o Le Monde.
Integrado num plano global de relançamento da economia de 100 mil milhões de euros, o valor alocado à Cultura é justificado pelo facto de se tratar de um sector que “sofreu muito com esta crise” mas revelador, acima de tudo, da forma como o executivo francês encara a actividade cultural: “É uma opção política, sem precedentes. Significa que, antes de mais, pensamos na Cultura como uma actividade económica, e isto deve ser dito alto e bom som”.
Neste plano de apoio ao sector cultural está incluída uma compensação aos cinemas, teatros e salas de espectáculos pelas perdas decorrentes das regras sanitárias que aquelas estruturas são obrigadas a cumprir. “Teremos de compensar a lacuna entre as receitas resultantes das restrições sanitárias e aquele que seria o ponto de equilíbrio [financeiro] das instituições.”
A entrevista à France Inter antecede as reuniões que o primeiro-ministro terá estas quinta e sexta-feira com representantes das artes performativas e do cinema. Aos microfones da rádio, Jean Castex antecipou o que transmitirá ao sector nesses encontros. Cita-o o Le Figaro: “É evidente para todos que, no cinema ou no teatro, as regras sanitárias que vos são impostas não permitem um equilíbrio financeiro. A prioridade é que tudo isso seja recuperado, a prioridade é que as pessoas vivam.”
Jean Castex, empossado primeiro-ministro em Julho pelo Presidente da República francês, Emmanuel Macron, anunciou também uma alteração nas regras de utilização dos espaços culturais. Ao contrário do que estava determinado até agora, a prioridade passará a ser o uso de máscara, que será obrigatório em todos os momentos, incluindo no decorrer dos espectáculos ou da exibição dos filmes, e não o distanciamento social. Defendendo que é imperativo apoiar o sector cultural, o primeiro-ministro exortou os cidadãos a frequentarem os cinemas e as salas. “Não correm risco algum”, afirmou.
A ministra da Cultura, Roselyne Bachelot, faria pouco depois da entrevista, na sua conta de Twitter, o resumo das novas medidas: “Salas de espectáculo e cinemas: supressão do distanciamento e uso contínuo de máscara. Mas, nas zonas vermelhas, onde o vírus circula activamente: manutenção do distanciamento físico entre espectadores e uso de máscara.”
O anúncio do apoio do Estado francês ao seu sector cultural surge depois de outros países europeus terem revelado os seus planos de apoio e recuperação para esta área de actividade. É o caso do Reino Unido onde, na semana passada, o governo anunciou um pacote de emergência, no valor de 3,36 milhões de libras (3,74 milhões de euros), para apoiar 135 pequenas salas de concertos ameaçadas de encerramento.
A iniciativa surge no âmbito de um vasto plano de apoio ao sector cultural, com fundos de 1,57 mil milhões de libras (1,75 mil milhões de euros), anunciado pelo executivo de Boris Johnson em Julho. O pacote de emergência surgiu depois de fortes críticas do sector à resposta dada pelo governo britânico à crise que o assolou, considerada insuficiente e ineficaz. Na altura, estimava-se que a pandemia já tivesse provocado a perda de 350 mil empregos.
Oliver Dowden, responsável pela pasta da Cultura no governo britânico, disse então, em entrevista à BBC, que o pacote de apoio tem como objectivo salvar “jóias da coroa” como o Royal Albert Hall, mas também muitos equipamentos locais espalhados pelo Reino Unido. São elegíveis teatros, museus, salas de concertos, cinemas independentes, monumentos e sítios patrimoniais.
Quando do anúncio do apoio, Boris Johnson declarou ser dever do governo “proteger e preservar tudo o que for possível para as gerações futuras, assegurando que os colectivos artísticos e as salas de espectáculos do Reino Unido conseguem manter-se à tona e sustentar o seu pessoal enquanto as suas portas se mantêm fechadas e as cortinas em baixo”.