Detidos dois membros do Conselho de Coordenação da Bielorrússia
Autoridades bielorrussas acusam organização opositora de tentar “tomar o poder”. Membros começaram a ser interrogados no final da semana passada e esta segunda-feira foram detidas as primeiras pessoas. Na quarta-feira, a Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, que integra o órgão, será interrogada.
As autoridades bielorrussas detiveram duas figuras da oposição no país esta segunda-feira, quando a contestação ao regime de Aleksander Lukashenko, no poder há 26 anos, entrou na terceira semana. Os detidos são Sergei Dyleuski, um operário que tem liderado o comité de trabalhadores em greve numa fábrica de tractores em Minsk, e Olga Kovalkova, conselheira de Svetlana Tikhanouskaia, líder da oposição que está exilada na Lituânia. Foram acusados de organizar um protesto ilegal.
Dyleuski e Kovalkova fazem parte da liderança do Conselho de Coordenação, um órgão criado pela oposição com o objectivo de levar a cabo uma transição pacífica de poder.
Deste conselho, composto por 35 membros da sociedade civil, incluindo jornalistas, operários, artistas e empresários, fazem ainda parte Tikhanouskaia e a Prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, de 72 anos, que foi notificada esta segunda-feira para ser interrogada na quarta-feira, segundo a Reuters. “A qualquer momento, podem bater à porta para me virem deter”, disse a escritora, em entrevista ao El País esta manhã.
The moment when opposition leaders were detained. They are accused of prepared protests without proper permission. It happened during the meeting with striking workers. Authorities are scared that workers of significant factories and plants will announce the nation-wide strike pic.twitter.com/yZXr3eNgZm
— Franak Viacorka (@franakviacorka) August 24, 2020
#Belarus Members of the coordination council Volha Kavalkova and Siarhei Dyleuski have been detained just now. They were taked to a paddy wagon. Eyewitness video: pic.twitter.com/j8pfqF69qc
— Hanna Liubakova (@HannaLiubakova) August 24, 2020
“A Bielorrússia mudou e as autoridades terão de falar connosco”, disse Maria Kolesnikova, gestora da campanha de Viktor Babariko – um dos opositores de Lukashenko que foi impedido de concorrer às presidenciais – e também membro do Conselho de Coordenação.
Na semana passada Lukashenko, depois de acusar a oposição de estar a tentar “tomar o poder”, deu ordens para que o Procurador-Geral bielorrusso avançasse com um processo criminal contra os membros do Conselho de Coordenação. Na última semana sexta-feira, alguns dos membros começaram a ser interrogados – entre eles Dyleuski – depois de o Presidente ter dito que iria “tomar medidas”.
As detenções surgem um dia depois de as ruas de Minsk se terem enchido novamente de manifestantes a denunciarem como fraudulentos os resultados das eleições presidenciais de 9 de Agosto – que deram 80% a Lukashenko e apenas 10% a Tikhanouskaia e que não foram reconhecidas pela União Europeia – e a exigirem novas eleições, livres e justas.
Apesar das ameaças de Lukashenko, que na semana passada deu ordens para os militares reprimirem quaisquer protestos, cerca de 200 mil pessoas saíram às ruas e encheram a Praça da Independência e as ruas adjacentes.
Enquanto se ouviam pedidos de novas eleições e palavras de ordem contra o “último ditador da Europa”, vídeos nas redes sociais mostravam Lukashenko a sair de um helicóptero com uma arma semi-automática na mão e vestido com um colete à prova de bala.
Lukashenka arrived at his residency with the gun in his hands. pic.twitter.com/Lzqj2rLaiq
— Franak Viacorka (@franakviacorka) August 23, 2020
À saída do palácio presidencial, Lukashenko foi cumprimentar membros das forças de segurança e agradeceu-lhes pelo seu trabalho. Segundo o The Guardian, ouviu palmas e gritos de “estaremos contigo até ao fim”, o que parece indicar que, apesar de algumas demissões, as forças policiais e os militares continuam ao lado do regime.
Esta segunda-feira, diz a agência Belta, o Presidente bielorrusso falou ao telefone com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, sobre a situação política em Minsk. Segundo a mesma agência de notícias bielorrussa, os dois chefes de Estado acordaram que a Bielorrússia vai participar na fase 3 de ensaios clínicos da vacina desenvolvida por Moscovo para o SARS-Cov-2 e será o primeiro país estrangeiro a receber a vacina quando esta estiver pronta.
Numa reunião com o seu ministro da Educação, Lukashenko ameaçou despedir os professores que continuam a participar em protestos e disse que “quem não seguir a ideologia do Estado” deve ser despedido.