Detidos dois membros do Conselho de Coordenação da Bielorrússia

Autoridades bielorrussas acusam organização opositora de tentar “tomar o poder”. Membros começaram a ser interrogados no final da semana passada e esta segunda-feira foram detidas as primeiras pessoas. Na quarta-feira, a Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, que integra o órgão, será interrogada.

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Liliia Vlasova, Pavel Latushko, Maria Koelesnikova e Maxim Znak (da esq. para a dta.), membros do Conselho de Coordenação em conferência de imprensa TATYANA ZENKOVICH/EPA
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Aleksander Lukashenko cumprimentou forças de segurança durante os protestos de domingo Reuters/POOL PERVOGO

As autoridades bielorrussas detiveram duas figuras da oposição no país esta segunda-feira, quando a contestação ao regime de Aleksander Lukashenko, no poder há 26 anos, entrou na terceira semana. Os detidos são Sergei Dyleuski, um operário que tem liderado o comité de trabalhadores em greve numa fábrica de tractores em Minsk, e Olga Kovalkova, conselheira de Svetlana Tikhanouskaia, líder da oposição que está exilada na Lituânia. Foram acusados de organizar um protesto ilegal.

Dyleuski e Kovalkova fazem parte da liderança do Conselho de Coordenação, um órgão criado pela oposição com o objectivo de levar a cabo uma transição pacífica de poder.

Deste conselho, composto por 35 membros da sociedade civil, incluindo jornalistas, operários, artistas e empresários, fazem ainda parte Tikhanouskaia e a Prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, de 72 anos, que foi notificada esta segunda-feira para ser interrogada na quarta-feira, segundo a Reuters. “A qualquer momento, podem bater à porta para me virem deter”, disse a escritora, em entrevista ao El País esta manhã.

“A Bielorrússia mudou e as autoridades terão de falar connosco”, disse Maria Kolesnikova, gestora da campanha de Viktor Babariko – um dos opositores de Lukashenko que foi impedido de concorrer às presidenciais – e também membro do Conselho de Coordenação.

Na semana passada Lukashenko, depois de acusar a oposição de estar a tentar “tomar o poder”, deu ordens para que o Procurador-Geral bielorrusso avançasse com um processo criminal contra os membros do Conselho de Coordenação. Na última semana sexta-feira, alguns dos membros começaram a ser interrogados – entre eles Dyleuski – depois de o Presidente ter dito que iria “tomar medidas”.

As detenções surgem um dia depois de as ruas de Minsk se terem enchido novamente de manifestantes a denunciarem como fraudulentos os resultados das eleições presidenciais de 9 de Agosto – que deram 80% a Lukashenko e apenas 10% a Tikhanouskaia e que não foram reconhecidas pela União Europeia – e a exigirem novas eleições, livres e justas.

Apesar das ameaças de Lukashenko, que na semana passada deu ordens para os militares reprimirem quaisquer protestos, cerca de 200 mil pessoas saíram às ruas e encheram a Praça da Independência e as ruas adjacentes.

Enquanto se ouviam pedidos de novas eleições e palavras de ordem contra o “último ditador da Europa”, vídeos nas redes sociais mostravam Lukashenko a sair de um helicóptero com uma arma semi-automática na mão e vestido com um colete à prova de bala.

À saída do palácio presidencial, Lukashenko foi cumprimentar membros das forças de segurança e agradeceu-lhes pelo seu trabalho. Segundo o The Guardian, ouviu palmas e gritos de “estaremos contigo até ao fim”, o que parece indicar que, apesar de algumas demissões, as forças policiais e os militares continuam ao lado do regime.

Esta segunda-feira, diz a agência Belta, o Presidente bielorrusso falou ao telefone com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, sobre a situação política em Minsk. Segundo a mesma agência de notícias bielorrussa, os dois chefes de Estado acordaram que a Bielorrússia vai participar na fase 3 de ensaios clínicos da vacina desenvolvida por Moscovo para o SARS-Cov-2 e será o primeiro país estrangeiro a receber a vacina quando esta estiver pronta.

Numa reunião com o seu ministro da Educação, Lukashenko ameaçou despedir os professores que continuam a participar em protestos e disse que “quem não seguir a ideologia do Estado” deve ser despedido.

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