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Marcelo fotografado por Alfredo Cunha. A solidão do turbo-Presidente
Quando os néones se apagam, Marcelo é um homem só. O fotógrafo Alfredo Cunha, editor fundador do PÚBLICO, captou nesta série de fotografias o outro lado do Presidente, uma personagem em que o excesso de ruído disfarça uma inapelável solidão política.
Uma certa “euforia” que atravessa o mandato do Presidente da República esconde um traço fundamental do político: sempre foi um homem só – mesmo quando liderava o PSD nunca houve “marcelistas” – e essa solidão transportou-a para Belém. O partido de que foi fundador apoiou-o em 2016 a contragosto e a campanha desse ano fê-la, na prática, sozinho. Agora, mais do que em 2016, a sua família política mostra crescentes sinais de incómodo.
O Palácio de Belém é um mundo que Alfredo Cunha conhece bem – foi fotógrafo oficial do Presidente Mário Soares durante os dois mandatos. Ao convencer Marcelo a deixar-se fotografar no Palácio, Alfredo Cunha mostra-nos um homem que vive uma “solidão muito acompanhada” mas ainda assim solidão.
Para este trabalho, Marcelo foi também fotografado na “cadeira dos leões”, que estava arrumada num depósito qualquer onde o antigo Presidente da República Mário Soares a foi desencantar. A “cadeira dos leões” nunca serviu os presidentes da República durante a ditadura. Era um adereço dos republicanos e foi arrumada depois do golpe de Estado de 1926.
Nesta série de fotografias vemos Marcelo no seu gabinete. Era o quarto da princesa D. Amélia, que viveu ali os seus primeiros tempos de casada com o futuro rei D. Carlos, então ainda príncipe herdeiro. O último rei a viver no Palácio de Belém foi D. José, que o abandonou depois do terramoto de 1755 para se instalar numa casa de madeira onde agora se situa o Palácio das Necessidades.
O Presidente estava no Porto quando lhe disseram que há ali um pintor que lhe fez o retrato. Marcelo foi ver o trabalho de Bessa e logo decidiu que o seu retrato oficial seria aquele. António Bessa já fez um segundo retrato do Presidente, mas Marcelo continua a preferir o primeiro, que tem colocado no seu gabinete
Nas fotografias de Alfredo Cunha, editor fundador do PÚBLICO, vemos também o Presidente e o seu automóvel – é o único presidente que continua a conduzir o seu próprio carro para não “perder a mão”. Os seus antecessores deixaram de conduzir, Marcelo faz questão de o fazer aos fins-de-semana e às vezes durante os dias da semana nos dias em que não tem programa oficial. Os motoristas de Belém “não adoram” que o Presidente goste de conduzir o seu automóvel privado. Mas não deixar de guiar o seu próprio carro faz parte do guião que Marcelo impôs à sua Presidência: manter-se igual, tanto quanto possível, ao cidadão que era antes de ser eleito. Foi a conduzir o BMW, em regime de aluguer de longa duração desde 2015, que veio para o Algarve, passar esta última semana de férias. Já acabou de o pagar e o vendedor agora insiste para que troque o carro. Para já, não o irá fazer. “Não há dinheiro”.