Navalni já está no Hospital Charité de Berlim, mas ainda não está salvo

O opositor do Presidente russo, internado desde quinta-feira em Omsk, na Sibéria, por suspeita de envenenamento, foi transferido para a Alemanha.

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Alexei Navalni numa fotografia de arquivo YEVGENY FELDMAN/EPA

O opositor russo Alexei Navalni já foi admitido no hospital Charité, em Berlim, confirmou o hospital pelo Twitter. Navalni está em coma após suspeita de envenenamento e a sua ida para a Alemanha foi inicialmente recusada pelo hospital russo em que estava, que alegou que o seu estado de saúde não o permitia. 

A partida do avião que transportou o crítico do Presidente russo de Omsk — uma ambulância aérea, explica o New York Times — para Berlim foi atrasada várias horas pelas autoridades russas, sem explicações.

A médica pessoal de Navalni disse acreditar que o objectivo era dar tempo suficiente para que fosse impossível detectar no organismo de Navalni o veneno de que foi vítima o opositor de Vladimir Putin.

A demora na autorização de viagem foi “um atentado contra a sua vida” levado a cabo “pelos médicos e as autoridades”, disse a porta-voz de Navalni, Kira Iarmish. “A luta pela vida e saúde de Alexei está agora apenas no início, e ainda há muito para percorrer, mas pelo menos foi tomado o primeiro passo.”

Jaka Bizilj, da fundação Cinema for Peace, que se encarregou das despesas do voo para Berlim, disse que o estado de Navalni era “crítico” e “preocupante”. A chegada a Berlim foi “apenas um pequeno sucesso, a questão permanece se sobreviverá, e se sim, sem danos permanentes”, declarou, citado pelo Washington Post.

No hospital está a ser feita uma avaliação completa, que ainda irá levar algum tempo, e a equipa médica adiantou logo que não haveria mais novidades durante o dia de sábado.

O avião ambulância aterrou ao início da manhã em Berlim. Navalni foi então levado com escolta para o prestigiado hospital, que já tratou, há dois anos, outro crítico de Putin que foi também provavelmente envenenado, e que acabou por recuperar — Piotr Verzilov, activista das Pussy Riot. Verzilov comentou que os sintomas de Navalni eram muito parecidos com os seus. 

Alexei Navalni, de 44 anos, estava internado desde quinta-feira em Omsk, numa unidade de cuidados intensivos, em coma e ligado a um ventilador, depois de se ter sentido mal durante um voo. A sua equipa suspeita que terá sido vítima de envenenamento — terão sido encontrados vestígios de materiais industriais, não especificados, nas suas roupas e dedos, disseram.

Os médicos do hospital de Omsk autorizaram na sexta-feira a transferência de Navalni para a Alemanha, para receber tratamento, a pedido da família, afirmando que o seu estado era “estável”, depois de inicialmente se terem oposto, argumentando que o seu estado não permitia a viagem.

A ONG alemã Cinema for Peace enviou um avião-ambulância, com uma equipa de médicos especializados no tratamento de doentes em coma, que aterrou na sexta-feira em Omsk. Mas a partida ainda haveria de demorar mais algumas horas.

A ida para o hospital universitário Charité, em Berlim, fora aprovada pela família e colaboradores do opositor.

A fama do hospital é grande na Alemanha, e foi lá que foram submetidos a cirurgias a chanceler, Angela Merkel, ao menisco, ou o Presidente, Frank-Walter Steinmeier, quando doou um rim à sua mulher. 

O prestígio estende-se além-fronteiras, e a revista norte-americana Newsweek já o considerou um dos melhores do mundo e o melhor da Europa. Mais de metade dos prémios Nobel alemães de Medicina trabalharam no Charité. O facto de já ter tratado um doente com sintomas semelhantes e que se presume ter sido envenenado também foi um factor que pesou na escolha.

A mulher do opositor escreveu uma carta na sexta-feira ao Presidente russo, Vladimir Putin, que autorizasse a transferência do marido para a Alemanha, e a equipa de Navalni recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para tentar conseguir autorização para o seu transporte para Berlim.

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