Governo procura formas de evitar mais paragens na pesca por causa do vírus
Há já três traineiras paradas, com a tripulação em quarentena, no Norte do país, e há ainda outra embarcação à espera de resultados. Mais de 60 homens estão impedidos de ir ao mar.
Subiu para três o número de embarcações com pescadores infectados por covid-19 na zona de Vila do Conde e Póvoa de Varzim. Ao PÚBLICO, o presidente da Propeixe, Agostinho Mata, confirma que o novo caso foi registado no Pedro André, também matriculado na mesma área geográfica e a operar, como os restantes, na arte do cerco, a partir de Leixões. Neste caso, foi o mestre que teve um teste positivo, mas ainda se desconhece como está a tripulação. Por apurar está ainda a situação de uma quarta embarcação, da qual falta saber o resultado dos testes. A antecipar a evolução do problema neste sector, Estado garante compensações para os armadores e tenta encontrar formas de evitar a paralisação de mais embarcações.
As três unidades presas ao cais são todas barcos do cerco, com capacidade “entre 16 a 20 pessoas”. Ao todo poderão estar “perto de 60 pessoas” paradas, adianta o dirigente da cooperativa de produtores de peixe, que, com o novo caso, tem agora duas embarcações associadas paradas – o Pedro André e o Virgílio Miguel. Se existir uma quarta embarcação com casos positivos, o número de homens parados, quase todos por imposição de quarentena profiláctica, poderá assim, ultrapassar os 80. A Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) não adianta o número de infectados, afirmando apenas que os delegados de saúde estão no terreno. As tripulações destas embarcações espalham-se por vários concelhos, entre a Póvoa de Varzim, a Norte, e a região de Aveiro.
Durante o dia de segunda-feira, foram realizados 31 testes à covid-19 na Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar, entre os quais se incluíam 19 membros de uma embarcação da pesca da sardinha, o Virgílio Miguel, no qual, nesse mesmo dia, foi detectada uma pessoa infectada com o novo coronavírus. Em Vila do Conde já havia outra embarcação parada há cerca de duas semanas, o José Dinis, depois de oito dos seus tripulantes terem testado positivo à covid-19. Nesta quarta-feira soube-se que o mestre do Pedro André está infectado.
Na sequência do aumento de casos de infecções em embarcações no Norte do país, reuniram de urgência em Matosinhos, esta quarta-feira de manhã, o secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, o secretário de Estado da Mobilidade e coordenador do combate à pandemia no Norte, Eduardo Pinheiro, a presidente da câmara de Vila do Conde, Elisa Ferraz, a delegação de saúde de Vila do Conde/Póvoa de Varzim, a ARSN, a Propeixe, representantes dos barcos Pedro André e Virgílio Miguel e outros armadores e mestres região.
Compensações garantidas
Ao PÚBLICO, Eduardo Pinheiro adianta que da reunião saiu a garantia de que a portaria que assegura compensações aos armadores por paragem até dois meses abarcará período complementar em caso de necessidade de paragem por força da covid-19. “Contrariamente a outros sectores, a pesca actua num período muito curto”, afirma. Face a esta contrariedade associada à actividade, o Estado antecipa medidas de compensação ajustadas à pandemia, “não só nesta área afectada, mas para todo o país”.
Até quarta-feira as infecções por covid-19 foram detectadas em elementos de três embarcações, havendo a suspeita de mais uma com possíveis casos positivos. A preocupação do coordenador do combate à pandemia vai para estas, mas também para outras que eventualmente possam passar pela mesma “dificuldade”. Para evitar a paragem do sector, Eduardo Pinheiro diz que, “dando primazia à saúde pública”, está a trabalhar-se em soluções para que os trabalhadores considerados “de alto risco” possam continuar a exercer a actividade, mantendo o isolamento em terra para evitar novas cadeias de transmissão. As soluções para tornar possível que essa seja a via a seguir ainda não estão definidas. Agostinho Mata está alinhado com a mesma ideia: A Propeixe gostaria de ter uma alternativa que não fosse a paragem”.
O secretário de Estado da Mobilidade sublinha que todos os representantes dos pescadores subscrevem a necessidade de ser dada primazia à saúde pública e ressalva que um eventual aumento de casos apenas se prende com a natureza da actividade, que obriga a aglomerações de pessoas. “As associações e os pescadores têm garantido todas as medidas de segurança”, assinala.
A reunião decorreu no mesmo dia em que uma embarcação de pesca afundou ao largo de Espinho. De acordo com a Autoridade Marítima Nacional, o pedido de socorro foi efectuado pelo mestre do barco. Os três pescadores que faziam parte da tripulação foram transportados para uma unidade hospitalar, desconhecendo-se ainda a causa do naufrágio.