UE não reconhece resultado das eleições e Lukashenko reprime protestos
Líderes europeus anunciaram pacote de ajuda financeira à Bielorrússia e confirmaram que figuras do regime vão ser alvo de sanções e o Presidente reagiu com reforço da repressão.
Aleksander Lukashenko está cada vez mais isolado e ameaça mais violência para conter os protestos contra o seu regime. A União Europeia (UE) anunciou esta quarta-feira que não reconhece os resultados das eleições presidenciais de 9 de Agosto e confirmou que vai impor sanções a algumas figuras do regime “responsáveis pela violência, repressão e fraude eleitoral” na Bielorrússia.
No final do conselho europeu extraordinário, por videoconferência, os líderes condenaram a violência contra manifestantes pacíficos, defenderam uma “transição democrática pacífica” na Bielorrússia. Salientaram a necessidade de a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) – que reúne os membros da União Europeia, a própria Bielorrússia e a Rússia, bem como países do Cáucaso, Ásia Central e América do Norte – monitorizar futuras eleições, o que não aconteceu nas últimas presidenciais.
A chanceler alemã, Angela Merkel, presidente em exercício da UE, reiterou que as presidenciais bielorrussas “não foram livres nem justas” e defendeu um “caminho independente” para o país, revelando que Lukashenko recusou falar com ela.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, dirigiram-se directamente ao povo bielorrusso e manifestaram a solidariedade dos 27 Estados-membros com os manifestantes pacíficos que, nas ruas, pedem há 11 dias a saída de Lukashenko do poder. “Estamos ao vosso lado, a apoiar o desejo de exercerem os vossos direitos democráticos fundamentais”, disse Michel. Von der Leyen defendeu o “direito legítimo” dos bielorrussos “determinarem o futuro do seu país”.
The European Union stands in solidarity with the people of #Belarus. And we don't accept impunity.
— Charles Michel (@eucopresident) August 19, 2020
The protests in Belarus are not about geopolitics. This is about the right of the People to freely elect their leadership.#EUCO pic.twitter.com/SAzeIq7T85
Para Joerg Forbrig, responsável pela Europa Central e de Leste do think tank German Mashall Fund, em Berlim, “a solidariedade europeia é muito importante” nesta fase. “Os bielorrussos exigem respeito do Estado e não ser brutalizados pela polícia. Nessa exigência, precisam de toda a ajuda e apoio que conseguirem fora do país. É muito importante para os bielorrussos sentirem que não foram esquecidos”, afirmou o analista, por telefone, ao PÚBLICO.
The people of #Belarus want change. And they want it now.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) August 19, 2020
They demand the release of all unlawfully detained people and the prosecution of those responsible for police brutality. They want democracy and new presidential elections. The EU stands with the people of Belarus. pic.twitter.com/RaCDQYBJ4S
Da reunião extraordinária do Conselho Europeu saiu ainda o anúncio de um pacote de ajuda financeira para a Bielorrússia no valor de 53 milhões, em que três milhões serão destinados a ajudar as “vítimas da repressão”, a “sociedade civil e os media independentes”, e os restantes 50 milhões destinados ao serviço de saúde, para o combate à covid-19, que Lukashenko classificou como uma “psicose” que se trata com vodka e sauna.
Retaliação
Apesar de a pressão externa estar a aumentar, Lukashenko não mostra disposição para sair do poder ou permitir novas eleições. Esta quarta-feira, enquanto os líderes europeus estavam reunidos, o Presidente bielorrusso deu ordens para que a polícia reprimisse quaisquer protestos nas ruas e deu indicações para que o KGB (sigla dos serviços secretos bielorrussos) prendesse os organizadores das manifestações dos últimos dias.
“Não deve haver mais nenhum distúrbio em Minsk. As pessoas estão cansadas e pedem paz e tranquilidade”, disse Lukashenko, citado pela agência Belta. Deu ainda indicações para um reforço militar nas suas fronteiras.
De Moscovo, no entanto, o Presidente bielorrusso recebeu a indicação de que uma ajuda militar russa não faz parte dos planos, apesar de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, ter denunciado a tentativa de países estrangeiros interferirem nos assuntos internos de Minsk, reiterando que devem ser os bielorrussos a resolverem os seus problemas.
Numa resposta ao Kremlin, Charles Michel garantiu que, na Bielorrússia, não estão em causa “questões geopolíticas”, mas sim a vontade do “povo bielorrusso querer decidir o seu futuro”.
O analista Joerg Forbrig considera fundamental que a UE insista nesta questão junto de Moscovo, uma vez que “para a Bielorrússia não está em causa escolher entre a Rússia e a UE” e “a população bielorrussa não articulou qualquer reorientação” perante Moscovo.
Além disso, continua, “se a Rússia olhar para a situação de forma sóbria, vai perceber que a Bielorrússia depende do país em termos de ligações políticas, económicas e sociais”, ligações essas que “não vão desaparecer”. Por isso, Forbrig admite que Moscovo possa vir a aceitar uma mediação da OSCE, da qual a Rússia também faz parte.
O analista antevê que a “Rússia vai desempenhar um papel muito importante” no desfecho da crise política na Bielorrússia. “Lukashenko ainda pode causar muitos estragos ao seu próprio povo, mas, basicamente, está sozinho e sem o apoio da Rússia vai ser bastante difícil resistir”, conclui Forbrig.